Cantina do Colégio: uma cozinha que serve "histórias" aos clientes
2 de mar. de 2018, 21:30
— Miguel Bettencourt Mota
Chama-se Cantina do Colégio e, dentro dele, há uma
"cozinha de histórias" pronta a fazer chegar à mesa uma
proposta "ousada e inovadora", deu conta a chef Angelina
Pedra, em entrevista a este jornal.
Num novo conceito - que se distancia do do antigo
restaurante 'A Colmeia' –, o espaço alia a culinária tradicional
açoriana a uma cozinha de assinatura em contexto de partilha.
"O nosso conceito-base é o de partilha. Tal como
uma cantina, queremos que haja aqui uma partilha de emoções, de
sensações, de experiências", explicou a chef micaelense. No
fundo, completou, "a ideia é que se partilhe da entrada até à
sobremesa" e - com os ingredientes a servirem de narrador -
deixar que o cliente corra a sua imaginação e desvende as histórias
por detrás dos pratos em sugestão.
'O Chicharro e A Lula ao Ritmo do Samba', 'A Porca que
Furou o Pico', 'O Leitão O Galego e a Fumada', 'A Quinta das
Bananeiras' e 'Uma Cratera de Chocolate em Lava de Ananás', são
apenas algumas das 'narrativas gastronómicas' que se contam naquela casa.
A visão partiu do proprietário do Hotel do Colégio,
Fernando Neves, e é Angelina que 'abre o livro', emprestando a sua
criatividade – e também as suas histórias – à carta do
restaurante.
Não obstante o
"requinte" que a Cantina do Colégio se propõe apresentar,
não deixa de sugerir uma experiência despretensiosa, num ambiente
assumidamente "familiar e aconchegante". O que lá é
confecionado "pode-se considerar alta cozinha, mas não é algo
que meta medo às pessoas", sublinhou a jovem vila-franquense.
"O objetivo é que as pessoas vejam beleza, consigam ver os
produtos a brilhar e que se sintam em casa na mesma",
acrescentou.
Como tal, a
política da chef é a seguinte: pegar em produtos locais e cortes de
carne "que, se calhar, são menos nobres" e proporcionar
algo de "diferente" a quem visita o espaço.
Angelina
esforça-se "para deixar os produtos brilharem por si".
Entretanto, na senda de procurar texturas e sabores exclusivos não
se coíbe de recorrer à cozinha de fusão. Entre e a cada prato,
fundem-se gastronomias e técnicas, que vão desde as japonesas às
americanas.
A isso, muito se
deve a formação de Angelina, que tirou o curso na Escola de
Formação Turística e Hoteleira e na Universidade Johnson &
Wales, nos Estados Unidos da América.
Depois de ter
passado pelo restaurante Anfiteatro, é, agora, responsável por
liderar uma equipa de quatro pessoas na Cantina do Colégio.
"É um
desafio muito grande, mas é o que mais me agrada nesta vida",
confessou a profissional de cozinha, ciente das exigências inerentes
à profissão.
Como sinalizou,
"há momentos de tensão", "perdem-se aniversários e
muito do nosso lado pessoal" para que se possa progredir e levar
em bom rigor as responsabilidades que se ocupam da área.
Ainda assim,
Angelina Pedra faz um "balanço muito positivo" daquele que
é já um percurso de cinco anos ligado à cozinha e diz não existirem
arrependimentos quanto ao facto de ter desistido da profissão ligada
à área multimédia, na qual também se formou. "Esta é uma vida de pressão e quem tiver o 'bichinho' tem de saber conviver com ela. É ele que não me faz parar e querer sempre melhorar", asseverou.