“Cansaço eleitoral” explica menos desinformação nas europeias
29 de jun. de 2024, 10:25
— Lusa
Sendo
impossível monitorizar tudo e todas as redes na campanha, é difícil
dizer se houve mais ou menos desinformação do que nas legislativas de
março, porque podem ter existido conteúdos que surgiram e desapareceram
“tão rapidamente que não ficou registo”, explicou o sociólogo e
coordenador do MediaLab, instituto de estudo de ciências da comunicação
integrado no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. “As
pessoas estão disponíveis para votar, mas desejavam ardentemente que o
ciclo, que para elas praticamente não se fechou entre legislativas e
europeias, chegasse a um fim. Para que se entrasse numa normalidade, que
é ter eleições e depois a seguir a governação respetiva”, disse.Uma
explicação possível - “difícil de quantificar” para o que aconteceu,
mas não a única - é o “cansaço eleitoral”, argumentou Gustavo Cardoso,
que coordenou o projeto com a Comissão Nacional de Eleições (CNE) para
detetar e prevenir eventuais notícias falsas antes das eleições de 09 de
junho. A desinformação “não é apenas quem
a cria”, é também “quem a partilha”, disse. Precisa que as pessoas e
“personagens públicas políticas” estejam “atentas e se envolvam, deem
atenção” àquilo que “está a circular” nas redes e medias sociais.“Se
não há casos graves de desinformação, isso só pode querer dizer uma
coisa: é que está a funcionar bem o sistema que temos”, afirmou Gustavo
Cardoso, qe avança com várias explicações possíveis: “Ou porque as
pessoas se coíbem de partilhar coisas, seja porque as plataformas atuam
rapidamente, seja porque os ‘fact checkers’ (verificadores) estão a
fazer bem o seu trabalho.”Certezas sobre
os porquês de haver mais ou menos desinformação não existem, mas há uma
conclusão dos especialistas do MediaLab: “Isso quer dizer que temos uma
democracia mais saudável.” Em termos
qualitativos, confirmou-se aquilo que Gustavo Cardoso e José Moreno
anteciparam há pouco mais de um mês: a imigração é um tema cada vez mais
relevante na política e na desinformação. O
investigador do MediaLab José Moreno destacou, à Lusa, que entre os
temas desinformativos identificados na Europa – clima, guerra na
Ucrânia, covid-19 ou género e LGBTQ+ - apenas a imigração ganhou relevo.
“Houve uma série de ameaças de desinformação nos outros países europeus que não chegaram a Portugal”, afirmou. De
acordo com o MediaLab, foram identificados “episódios desinformativos
que não tiveram grande grande impacto” e os mais vistos foram os
“amplificados por alguém que tem um ‘megafone’ nas redes sociais”, ou
seja, muitos seguidores. Registaram-se alguns casos, noticiados durante a campanha, identificados pelo MediaLab e noticiados pela Lusa. Um
vídeo originário da Síria com uma estátua da Virgem Maria, datado de
2013 e divulgado na campanha eleitoral das europeias nas redes sociais
do Chega, foi considerado como desinformação pelos especialistas.E
André Ventura, líder do Chega, foi o primeiro líder político em
Portugal cuja voz foi gerada por inteligência artificial (IA) num vídeo
de publicidade enganosa com conteúdo político, num caso claro de
desinformação com motivação económica.