Candidato à liderança da UGT Mário Mourão quer “pôr o setor privado na agenda” da central
11 de nov. de 2021, 15:33
— Lusa/AO Online
“Espero
pôr o setor privado também na agenda da UGT, a par com o da função
pública, porque problemas existem em todos os setores, infelizmente, e
nós temos que dar resposta a todos os setores que a UGT representa”,
afirmou, em entrevista à agência Lusa, o presidente do Sindicato dos
Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal (SBN - ex-Sindicato dos
Bancários do Norte), que no sábado disputa com José Abraão a liderança
da tendência sindical socialista (TSS) da central.O
presidente da TSS eleito no congresso de sábado será, por inerência, o
candidato a secretário-geral da UGT, a eleger no XIV congresso da
central sindical, previsto para abril de 2022, e que sucederá a Carlos
Silva, que lidera a central sindical desde 2013.Na
opinião de Mário Mourão, atualmente, “o setor público tem um peso
enorme” na UGT e, se é verdade que “os privados também têm”, o facto é
que, “em termos dos ‘media’, a mensagem não tem passado suficientemente
bem para ser acolhida”.“O setor público
tem uma forte influência – e ainda bem que o tem, porque também há
muitos problemas –, mas a UGT tem também uma componente muito forte de
sindicatos do setor privado filiados e também temos que lhe dar
visibilidade”, considerou.Assim,
sustentou, uma das bandeiras da sua candidatura “não é dar mais força
[aos privados], mas é pô-los em igualdade de circunstâncias com os
trabalhadores da função pública”: “São todos sindicatos da UGT, são
todos precisos. Há problemas no setor público e no setor privado e a
central tem de ser o veio de comunicação com os seus sindicatos, porque
tem de saber interpretar a vontade dos seus sindicatos, que são os donos
da central”, explicou.“A central fará
aquilo que os sindicatos quiserem e, portanto, face ao momento que
vivemos no setor privado, temos que dar-lhe também uma importância na
comunicação que a UGT tem que fazer no futuro e na própria Concertação
Social”, reiterou.Embora considere serem
“mais as coisas” que o “unem” do que as que o “dividem” do “amigo” e
agora concorrente José Abraão – que é secretário-geral do Sindicato dos
Trabalhadores da Administração Pública (Sintap) e da Federação Sindical
da Administração Pública (Fesap) – Mário Mourão acredita que, enquanto
líder de um sindicato da banca, oriundo do setor privado, estará em
melhores condições para “criar a harmonia entre os setores que a UGT
representa”.“Distingue-nos o estilo e
alguma coisa de conteúdo. Provavelmente, o Abraão terá uma intervenção
mais na área do setor público, onde ele é um quadro excelente que a UGT e
a tendência socialista não podem perder. E eu acho que o setor público,
sim, mas também o setor privado, porque há muitos problemas no setor
privado”, afirma.Apesar das diferenças, o
presidente do sindicato bancário assegura: “O Abraão é um socialista
como eu, somos militantes do partido. Há muitos anos que nos cruzámos na
UGT, somos amigos, e não tenho dúvidas de que este debate não nos vai
afastar”.E acrescenta: “No congresso vão
ser discutidas as moções programáticas e, no momento seguinte, não tenho
dúvidas de que darei um passo para, a partir daquele momento, não haver
nem vencedores, nem vencidos. Somos todos precisos para o projeto da
UGT, somos todos precisos para os momentos difíceis com que vamos ter
que nos confrontar”.Considerando que “a
UGT hoje é insubstituível na democracia e na sociedade portuguesas”,
nomeadamente para “dar respostas ao mundo do trabalho”, Mário Mourão
salienta o facto de ser “uma central que privilegia o diálogo, a
negociação coletiva e a concertação” e defende que assim tem de
“continuar a ser”: “Esse é o nosso ADN e daí não nos podemos desviar”,
diz.Mourão foi recentemente reeleito
presidente do SBN, que lidera desde 2005, e pretende manter-se neste
cargo se ganhar a corrida a secretário-geral da UGT, porque “a banca
atravessa um momento difícil” e não lhe pode “virar as costas”.Garantindo
que “é possível conciliar as duas funções”, “sem prejuízo” para
nenhuma, Mário Mourão assegura: “Se ganhar [a liderança da UGT], estarei
sempre na Concertação Social e nas audiências quer com o Presidente da
República, quer com o Governo. Disso não abdicarei, porque é aí que acho
que temos que dar a cara em nome da instituição que representamos ao
mais alto nível, para que as instituições também se saibam respeitar
umas às outras”.Relativamente ao facto de,
pela primeira vez em 43 anos de história da UGT, haver dois candidatos à
liderança, Mário Mourão congratula-se com a novidade, pois considera
que “é assim que devem funcionar as instituições”.“Isto
praticamente era uma monarquia, quem saía escolhia o seu sucessor”,
graceja, convicto de que a atual disputa “vai promover o debate” e
“enriquecer o congresso, porque vai haver duas moções programáticas para
discutir”.“Uma das coisas que eu valorizo
muito relativamente ao facto de haver duas candidaturas é que já fez
muito para a organização da tendência socialista neste último mês e para
a atenção que lhe é preciso dar e que nunca foi dada”, concluiu.