Cancro da mama, colorretal e do fígado aumentam em pessoas mais jovens
4 de nov. de 2024, 11:20
— Lusa
“Os
cancros têm aumentado em pessoas mais jovens, mas a nossa preocupação
principal é o aumento do cancro da mama em mulheres com 30 e tal, 40
anos, e do cancro do cólon e do intestino grosso também em pessoas com
40 anos”, disse o diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais.Segundo
o gastrenterologista, o cancro do fígado também tem mostrado um
crescimento entre a população mais jovem, o que leva a um apelo para a
realização de rastreios precoces.Atualmente,
recomenda-se que os portugueses com 50 ou mais anos realizem o rastreio
do cancro colorretal (pesquisa de sangue oculto nas fezes ou
colonoscopia), mas os especialistas começam a recomendar que se realize
aos 45 anos, disse Tato Marinho, que falava à Lusa a propósito da
conferência “Rastreios e Prevenção: Inovar em Saúde Pública”, organizada
pela Associação Nacional de Farmácias, que se realiza na terça-feira,
em Lisboa.O especialista aponta várias
explicações para o aumento deste cancro em idades mais jovens, como a
obesidade, “um problema gravíssimo de saúde pública”.“Apesar
de várias campanhas, a população está cada vez mais obesa”, disse,
alertando que a obesidade “aumenta o risco de cancro não só do cólon, do
fígado, mas também da mama”.O consumo excessivo de álcool e uma dieta rica em carne vermelha também têm sido identificados como fatores de risco.“Nós
somos dos países do mundo onde se consome mais álcool por cabeça e
começa-se a consumir muito cedo. Isso também é um fator de risco para o
cancro da mama e do cólon”, avisou o também diretor clínico da Unidade
Local de Saúde Santa Maria, em Lisboa.Enfatizou
que muitos jovens não têm consciência dos riscos associados aos seus
comportamentos e estilo de vida, defendendo, por isso, que as campanhas
de sensibilização deviam começar no ensino básico.Defendeu
igualmente atividades na escola que promovam o exercício físico e uma
alimentação saudável, criando uma base para um estilo de vida que
previna doenças futuras.“Um jovem que tem
excesso de peso, que fuma, bebe, vai viver menos 20 ou 30 anos, porque o
risco de ter cancro do pulmão, do fígado ou do cólon é mais elevado”,
elucidou.As doenças oncológicas são a
segunda causa de mortalidade em Portugal, onde a cada ano são detetados
mais de 7.000 casos de cancro colorretal, registando uma taxa de
mortalidade superior à média da UE, cerca de 9.000 novos casos de cancro
da mama e cerca de 1.400 novos casos de cancro do fígado.Questionado
sobre a situação das hepatites B e C, o especialista afirmou que estão
“mais ou menos controladas”, realçando que Portugal é dos melhores
países do mundo na aplicação da vacina da hepatite B quando o bebé
nasce.“Só metade dos países do mundo fazem isto, que é das medidas mais eficazes para evitar a hepatite B”, enalteceu.Para
a hepatite C, o tratamento é gratuito em Portugal e cura quase 100% dos
casos, assinalou, destacando, contudo, a importância de se realizarem
cada vez mais rastreios para detetar a doença precocemente.“Temos
uma forte imigração (...). Nem todos tiveram acesso, como nós, aos
melhores cuidados de saúde. Estão cá para sobreviver, para ajudar
Portugal e precisamos muito deles, mas muitos vêm de países em que não
se faz a vacina de hepatite B à nascença ou não tem disponível o
tratamento da hepatite C”, referiu. Portanto,
concluiu Tato Marinho, “é uma história inacabada" e daí a necessidade
de cada vez mais testes e "as farmácias que são ofertas de saúde de
proximidade, com pessoas esclarecidas, podem ser um instrumento
fantástico para detetar mais pessoas” nos rastreios.