Cancelados concertos de fim ano no Kennedy Center em protesto pela mudança de nome
Hoje 17:44
— Lusa/AO Online
Numa declaração publicada na
página de abertura do seu 'site', o septeto, que conta com
músicos-chave na história do jazz como Eddie Henderson, Cecil McBee,
George Cables e Billy Hart, justificou o cancelamento pelo apelo à
liberdade da música."O jazz nasceu da luta
e de uma insistência implacável pela liberdade: liberdade de
pensamento, de expressão e da voz humana plena. Alguns de nós já fazem
esta música há muitas décadas, e esta história ainda nos molda".Os
músicos garantem que não estão a abandonar o seu público: "Queremos
garantir que, quando regressarmos ao palco [do Kennedy Center], o local
poderá celebrar plenamente a presença da música e de todos os que a
vivem".O grupo The Cookers é a mais
recente desistência da programação do Kennedy Center, que tem visto
vários artistas cancelaram as suas atuações, desde que foi renomeado
Trump-Kennedy Center, pelo conselho de administração, com elementos
próximos do atual presidente.O concerto de
natal, uma tradição com mais de 20 anos, também foi cancelado após o
nome de Donald Trump ter sido adicionado ao edifício, em 19 de dezembro.
O diretor do espetáculo, o músico Chuck
Redd, disse na altura à Associated Press que cancelara a atuação quando
viu "a mudança de nome no 'site' do Kennedy Center e no edifício". A
companhia Doug Varone and Dancers, que tinha espectáculos agendados
para abril, também justificou a sua decisão na segunda-feira, no
Instagram: "Após a recente decisão de Donald Trump de renomear o local
em sua homenagem, não nos podemos permitir, nem pedir ao nosso público
que vá a esta instituição outrora prestigiada".A
cantora folk Kristy Lee também anunciou o cancelamento do seu concerto
de janeiro nas redes sociais: "Quando a história americana começa a ser
tratada como algo que pode ser banido, apagado, renomeado ou reformulado
para alimentar o ego de alguém, não consigo subir àquele palco e dormir
em paz".A nova administração do centro,
por seu lado, também cancelou espetáculos e eventos que celebravam a
comunidade LGBT+, organizou conferências da direita religiosa e convidou
artistas que divulgam a sua crença cristã nos espetáculos.Segundo
a imprensa norte-americana, a venda de bilhetes do Kennedy Center caiu
para os piores níveis, desde a pandemia, com a chegada da nova
administração.O jornal The Washington Post
noticiou que, desde setembro, pelo menos "43 por cento dos bilhetes
ficaram por vender", nas diferentes salas do Kennedy Center - Concert
Hall, Opera House e Eisenhower Theater -, lembrando que, antes, a taxa
de ocupação dos espectáculos era sempre superior a 93%.O
atual presidente do Kennedy Center, Richard Grenell, reagiu aos
cancelamentos, que considerou "um boicote", afirmando que esses artistas
"foram contratados pela antiga direção de extrema-esquerda".Numa
numa carta citada pelo Washington Post, Grenell disse que "as artes são
para todos, e a esquerda está furiosa com isso". Ameaçou ainda Chuck
Redd com um processo judicial e o pedido de uma indemnização de um
milhão de dólares, pelo cancelamento do concerto de natal.O
presidente John F. Kennedy foi assassinado em 1963, e o Congresso
aprovou como lei, no ano seguinte, a criação do Kennedy Center of
Performing Arts em sua memória.A família
do presidente Kennedy e a oposição democrata denunciaram a mudança de
nome. Kerry Kennedy prometeu remover o nome de Trump do edifício assim
que ele deixar o cargo, e o historiador Ray Smock está entre aqueles que
dizem que qualquer alteração à designação do centro tem de ser aprovada
pelo Congresso.A lei proíbe
explicitamente o conselho de administração do Kennedy Center de o
transformar num memorial a qualquer outra pessoa e de adotar outro nome e
afixá-lo no exterior do edifício.