A
localização destas sepulturas em Marieval, em Saskatchewan, menos de um
mês após terem sido encontrados os restos mortais de 215 crianças perto
de um internato de Kamloops, na vizinha Columbia Britânica, “fazem
parte de uma tragédia mais vasta”, considerou Justin Trudeau em
comunicado.Esses
dramas recordam “de forma vergonhosa o racismo, a discriminação e a
injustiça sistémicas com os quais os povos autóctones se viram – e veem
ainda – confrontados neste país”, declarou Trudeau, que fez da
reconciliação com os povos nativos uma das prioridades do seu Governo.“Juntos,
devemos reconhecer esta verdade, tirar lições do nosso passado e
avançar no caminho comum da reconciliação. Poderemos assim construir um
futuro melhor”, acrescentou, partilhando a sua “imensa tristeza” com as
comunidades atingidas.“A
dor e o trauma que sentem, o Canadá é por eles responsável”, prosseguiu
o primeiro-ministro canadiano, prometendo mais uma vez assistência
financeira e material às comunidades indígenas, “para esclarecer estas
terríveis injustiças”.“Embora
não possamos trazer de volta aqueles que perdemos, podemos dar a
conhecer a verdade sobre o que eles sofreram – e fá-lo-emos”, prometeu.Esta
descoberta reacendeu o trauma vivido por cerca de 150.000 crianças
ameríndias, Métis e Inuit, afastadas das respetivas famílias, da sua
língua e da sua cultura e matriculadas à força, até aos anos 1990, em
139 desses internatos em todo o país.Muitas
delas foram submetidas a maus-tratos ou abusos sexuais, e mais de 4.000
aí morreram, segundo uma comissão de inquérito que concluiu tratar-se
de um verdadeiro “genocídio cultural” perpetrado pelo Canadá.O
líder da Federação das Nações Autóctones Soberanas da Província de
Saskatchewan, Bobby Cameron, denunciou hoje o que classificou como “um
crime contra a Humanidade”.O
chefe indígena dos Cowessess, Cadmus Delorme, que hoje anunciou, em
conferência de imprensa, a descoberta de 751 sepulturas num internato,
defendeu que o Papa Francisco deveria pedir desculpas públicas pelos
abusos sofridos pelos povos autóctones em instituições geridas pela
Igreja Católica.“[O
Papa] deve desculpar-se pelo que aconteceu no colégio interno de
Marieval e pelo seu impacto na primeira nação dos Cowessess, nos
sobreviventes e seus descendentes”, disse Delorme, citado pela agência
de notícias espanhola Efe.“O pedido de desculpa é um passo de muitos no caminho para a recuperação”, sublinhou.