“Campeonatos de cada ilha são o nível competitivo que deve merecer maior respeito”
28 de abr. de 2019, 14:03
— Arthur Melo
Na ordem do dia está a discussão do
alargamento do Campeonato de Futebol dos Açores de 12 para 10
clubes. Que implicações financeiras terá este alargamento para os
cofres da Região?
Em primeiro lugar convém sempre
alertar que as questões de desenvolvimento desportivo nunca podem
ser equacionadas exclusivamente do ponto de vista economicista. Nem
tão pouco reduzindo-as a uma mera discussão de número de equipas
que em determinado momento participam, ou não, numa prova ou sequer
ao seu modelo competitivo.
Não podemos esquecer que as condições
para haver apoio por parte do Governo para a realização de um
campeonato regional dos desportos coletivos num modelo de prova
regular anual, constam do “Regime jurídico do apoio ao movimento
associativo desportivo”, estabelecido em Decreto Legislativo
Regional, como tal aprovado pela Assembleia Legislativa Regional e
não tratam nenhuma modalidade de forma diferenciada.
Por isso a questão é muito mais vasta
que uma simples discussão em torno de alargamento e uma eventual
proposta de decisão tem necessariamente que passar por uma
demonstração clara das vantagens a médio prazo e dentro do
respeito dos princípios que têm norteado o nosso desenvolvimento
desportivo, sendo que se assume em primeiro lugar que os campeonatos
de cada ilha são o nível competitivo que deve merecer maior
respeito, pois é aquele que se encontra à disposição de todos os
açorianos através dos seus clubes.
As provas regionais (interilhas) e em
particular aquelas que puderem ser disputadas como níveis fechados,
têm que corresponder a um patamar superior de organização e serem
o fruto dos filtros de qualidade desportiva, bem como corresponderem
a uma valorização dependente dos níveis de prática anteriores. É
preciso verificar se as condições de base em termos do número de
equipas garantem de forma valiosa as provas de ilha e se existem
indicadores que assegurem esse futuro.
De qualquer forma sempre se dirá que o
valor médio anual do apoio ao campeonato de futebol dos Açores é
de cerca de 540.000,00 euros o que significa que no caso de um
eventual aumento do número de equipas para 12 e com cenários de
distribuição por ilhas de origem semelhantes ao atual, o acréscimo
rondará os 70.000,00 euros entre apoios às deslocações,
majorações e prémios de utilização de atletas formados nos
Açores.
No entanto e na hipótese extrema de
dispersão e de as equipas terem origem das 6 ilhas que atualmente
possuem prática de futebol federado (2 equipas de cada ilha), o
valor poderia ascender a mais de 900.000,00 euros.
Os clubes e associações pretendem a
implementação deste alargamento já na época desportiva 2019/2020.
Esta pretensão é realista ou terá de ser adiada, atendendo a que
esta é uma matéria que terá de ir a plenário na Assembleia
Legislativa Regional dos Açores?
Não creio, que no momento, o cenário
da próxima época sequer se coloque.
A questão fundamental é mesmo
apreciar e ponderar as condições de desenvolvimento que o futebol
apresenta e o que nos orientam os seus indicadores para o futuro.
Perceber qual o contexto nacional de
desenvolvimento que o futebol, através da sua Federação pretende
para o País e como assumir que nos Açores desenvolvemos o nosso
futebol respeitando as nossas características arquipelágicas,
sociais e económicas, contribuindo para a afirmação no todo
nacional, mas sem perder de vista o grande desafio de que o desporto
seja um contributo para a qualidade de vida da nossa população.