Câmara ilibada e atual administração da Azores Parque acusada de insolvência culposa
19 de abr. de 2021, 14:13
— Lusa/AO Online
A
sentença que foi conhecida iliba o presidente do Governo Regional,
José Manuel Bolieiro, a atual presidente da Câmara Municipal, Maria
José Duarte, e Humberto Melo, que era, então, vice-presidente da
autarquia, de insolvência culposa.José
Manuel Bolieiro e Maria José Duarte eram, à data da alienação da
empresa, presidente da câmara e vereadora, respetivamente, e integraram a
administração da Azores Parque.No
comunicado enviado às redações, o tribunal determina que a anterior
administração da Azores Parque “cumpriu os normativos legais,
nomeadamente providenciando-se pela cobertura de prejuízos,
diligenciando-se pela internalização da empresa e, após, pela alienação
dela”.Assim, “o Tribunal considerou não se
verificarem os pressupostos da qualificação da insolvência como
culposa, pelo que determinou a absolvição” dos administradores
anteriormente referidos, bem como de Luísa Moniz, que era vereadora
naquela câmara.Esta instância concluiu, no
entanto, o “carácter culposo da insolvência” desta empresa, com
“afetação pessoal” de Carlos Silveira e Khaled Saleh, “que ficaram
inibidos para o exercício do comércio e para a ocupação de qualquer
cargo de titular de órgão de sociedade comercial ou civil, associação ou
fundação privada de atividade económica, empresa pública ou
cooperativa, por um período de quatro anos”.Ficou,
ainda, determinada “a perda de quaisquer créditos” dos administradores
“sobre a massa insolvente”, sendo que estes devem “indemnizar os
credores da insolvente no montante dos créditos não satisfeitos”.A
sentença cita “a venda à sociedade Birds Waves, Unipessal, Lda., por
50.000 euros, de quinze imóveis que valiam efetivamente 3.043.689,78
euros”, assim como o “levantamento injustificado de cerca de 188.000
euros” como prova de insolvência culposa.A
Azores Parque - Sociedade de Desenvolvimento e Gestão de Parques
Empresariais é uma empresa municipal que visa a promoção e
desenvolvimento urbanístico imobiliário de parques empresariais.O
último relatório de contas disponível, de 2017, mostrava um passivo
superior a 11 milhões de euros, dos quais 10,5 milhões correspondem a
passivos bancários.A venda da empresa foi
aprovada em Assembleia Municipal, em novembro de 2018, e oficializada em
março de 2019, altura em que a sociedade comercial Alixir Capital
comprou 102 mil ações, com um valor nominal de cinco euros cada,
perfazendo um total de 510 mil euros, mas que foram adquiridas por 500
euros.Em oito meses, a Azores Parque
alienou vários imóveis por 705 mil euros, mas retirou todo o dinheiro
das contas bancárias antes de ser declarada insolvente.O
Ministério Público está a investigar a alienação da Azores Parque, num
inquérito que inclui os membros do anterior executivo camarário que
foram hoje ilibados no processo de qualificação da insolvência.Paralelamente,
o banco Santander moveu um processo judicial em que acusa a Câmara
Municipal, então liderada pelo atual presidente do Governo Regional,
José Manuel Bolieiro, de ter fugido ao pagamento do crédito, no valor de
7,5 milhões de euros, com a alienação de 51% do capital social da
Azores Parque.Também o Millenium BCP avançou com uma ação contra a autarquia, que acusa de ter agido de forma ilícita.O
banco exige o pagamento de 3,12 milhões de euros referentes a duas
cartas de conforto assinadas pela Câmara, em que a autarquia se
comprometia a não abdicar da posição maioritária na empresa enquanto os
empréstimos não fossem pagos.