Câmara do Comércio de Ponta Delgada discorda de taxa turística
7 de mar. de 2022, 17:10
— Lusa/AO Online
A posição
surge num parecer emitido pela CCIPD na sequência da solicitação da
Comissão Especializada Permanente de Economia da Assembleia Legislativa
Regional sobre o projeto de decreto legislativo regional apresentado
pelo PAN, partido das Pessoas, Animais e Natureza, que pretende criar
uma taxa turística regional única no arquipélago."Depois
de um ano de 2020 catastrófico para o setor, em 2021 registou-se uma
recuperação apenas parcial, registando-se uma quebra superior a 35% do
valor das dormidas de 2019. As perspetivas para 2022 apontam para um ano
de continuação da recuperação, mas ainda sem atingir os valores
pré-covid, situação que se tornou mais real com a variante Ómicron, que
está a ter um impacto negativo no 1º trimestre de 2022", lê-se no
parecer enviado às redações.Para a Câmara
do Comércio e Indústria de Ponta Delgada "este não é, pois, o momento
adequado para criar uma taxa turística", alegando que a sua criação
"neste momento, constitui um sinal errado e negativo e dá uma perceção
incorreta" do destino turístico açoriano."O
foco deve estar centrado na consolidação do setor, na sua
competitividade e na retoma plena da atividade. Quando tal for atingido
poderá equacionar-se a criação de uma eventual taxa que contemple
externalidades que os turistas possam não estar a pagar. Importa
salientar que destinos turísticos muito mais consolidados e com maior
projeção não têm taxa turística regional, como é o caso da Madeira, onde
apenas o município de Santa Cruz aplica uma taxa", sublinha.Os
empresários apontam que o contexto continua a ser de "profunda
incerteza", agora "ainda mais agravado pela situação instável e perigosa
que se regista no leste da Europa e que pode ter graves consequências
para o turismo".O objetivo prioritário
deve ser o de recuperar o setor e de o consolidar, uma vez que se
encontra muito fragilizado depois de uma profunda crise de dois anos, e
não de criar mais constrangimentos ao seu desenvolvimento. O previsível
fim da pandemia significa e está já a provocar uma forte concorrência
entre mercados pela captação de turistas. A competitividade dos destinos
é, por isso, um elemento fulcral para o seu sucesso", refere.
A CCIPD considera que os turistas e os residentes "já contribuem
fortemente, através de impostos e taxas, para a melhoria ambiental e
para a transição climática", lembrando que a administração regional e
local "tem vindo a criar serviços que acrescentam valor, que são pagos
pelos utilizadores, em alguns casos apenas por turistas", como o caso do
acesso à Poça da Beija, ao Ilhéu de Vila Franca, à Lagoa das Furnas, à
Caldeira Velha, na ilha de São Miguel, "havendo outros exemplos em
outras ilhas". "Não se vislumbra que mais
uma taxa, cujas receitas poderão não ser utilizadas em áreas que digam
respeito às questões ambientais, possa constituir um instrumento que
“contribui para o desenvolvimento e sustentabilidade do destino,
minimizando o impacto da carga turística”, como é referido no preâmbulo
desta proposta", refere o parecer.No
entender da CCIPD, a criação da taxa turística "significa a extração de
um valor sem qualquer serviço prestado" e figurando como uma “taxa
parasitária” do sistema. "Quando se tem
vindo a defender a necessidade de se reduzir ou eliminar custos de
contexto, como forma de melhorar a competitividade das empresas, esta
proposta vem criar mais um, que originará acrescidos custos com pessoal,
face à burocracia que este regime pretende implementar", sublinha. A
associação empresarial, de São Miguel e Santa Maria, entende que "numa
altura em que a eficiência e a competitividade são fatores chave para o
sucesso dos setores transacionáveis, como é o caso do turismo", a
proposta "introduz ineficiências incompreensíveis e corrói a já frágil
competitividade dos Açores no setor do turismo". "Atendendo ao exposto, a CCIPD não considera esta proposta oportuna, nem na sua forma nem no seu conteúdo", justifica.O
projeto de decreto legislativo regional proposto pelo PAN, determina a
aplicação de uma taxa turística, que varia entre um euro para os
turistas que chegam à região via aérea, e de dois euros, para os
turistas que fazem escala no arquipélago em navios de cruzeiro.A
proposta do PAN pretende que a taxa turística seja aplicada aos
hóspedes, maiores de 14 anos de idade, sem domicílio fiscal nos Açores,
que se desloquem à região e que realizem dormidas remuneradas em
empreendimentos turísticos, estabelecimentos de alojamento local,
parques de campismo ou parques de caravanismo, ou ainda aos passageiros
que desembarquem em navios de cruzeiro ou embarcações de recreio, até ao
limite máximo de quatro noites.De acordo
com a mesma proposta, estão isentos do pagamento os hóspedes cuja
estadia seja motivada por tratamentos médicos, assim como os seus
acompanhantes, e também atletas dos clubes desportivos e os estudantes.Na
sexta-feira, a Associação de Municípios da Ilha de São Miguel (AMISM)
disse que está a preparar uma taxa turística em todos os concelhos da
ilha para entrar em vigor em 2023, segundo anunciou o vogal da
associação, Alexandre Gaudêncio.“Os
municípios da ilha de São Miguel estão já a trabalhar na criação de uma
taxa municipal, idêntica em todos os concelhos da ilha, para aplicar já
no ano de 2023”, revelou o autarca social-democrata da Ribeira Grande,
que preside também à AMRAA (Associação de Municípios da Região Autónoma
dos Açores), sem revelar o valor da futura taxa.Alexandre
Gaudêncio foi ouvido pela Comissão de Economia da Assembleia Regional, a
propósito da proposta do PAN que pretende criar uma taxa turística
regional única no arquipélago, mas disse discordar da medida, tal como é
apresentada. Pedro Neves, deputado do
PAN, explicou que a sua proposta é criar uma taxa turística regional
única e não taxas municipais avulsas, que podem divergir de concelho
para concelho e de ilha para ilha. “O que
defendo não é uma taxa turística municipal. É uma taxa turística
regional, que seja comum em toda a região”, insistiu o parlamentar
açoriano, recordando que, de acordo com a proposta que entregou no
parlamento e que está agora em discussão, “metade das receitas” dessa
nova taxa, reverterão a favor dos municípios.