Câmara desmente surfistas que se queixaram de obra em Angra do Heroísmo
14 de ago. de 2021, 01:24
— Lusa /AO Online
Em causa está a construção de um talude de 30 metros, que dá continuidade a uma empreitada de proteção que foi feita há quase dez anos, com uma extensão de “cerca de 300 metros”.“Esses cerca de 30 metros já se encontram concluídos. A parte que poderia interferir com a onda já está feita nesta altura, estão apenas a fazer a estabilização do topo do talude” e “a verdade é que não houve nenhuma interferência”, garantiu hoje à Lusa Álamo Meneses, acrescentando que quem o diz são os “engenheiros responsáveis”.O autarca reagia a um comunicado enviado na quinta-feira pela Associação de Surf da Terceira (AST), no qual os surfistas dizem que “aquilo que afirma o senhor presidente da câmara e o projetista que a obra que foi realizada há dez anos e esta continuação não afetarão a onda está longe de ser verdade”.De acordo com o comunicado, “atualmente o muro de proteção, construído sobre uma muralha que fazia parte do histórico Forte do Espírito Santo, causa na preia-mar uma reflexão considerável da onda, pois a praia de calhau rolado que desapareceu deixou de ter o seu papel, o que resulta em dias de 'swell' (ondulação com boas condições para prática de surf) [com] uma maior agitação que não só afeta a qualidade da onda a rebentar, como parte da sua energia se concentra junto ao muro”.A AST refere que essas condições fazem com que a ondulação possa “galgar o caminho, torna perigoso o acesso ao mar” e traz “maiores dificuldades ao surfista [para] conseguir passar a rebentação para chegar novamente ao local onde a onda se forma”.“Ora, se a obra prevê aumentar o enrocamento nessa zona e fazer a continuação do muro de proteção é fácil concluir que a energia da ondulação a quebrar aumentará a sua reflexão (o ‘backwash’) e afetará a dinâmica de formação e rebentação da onda, tornando a prática do surf impossível”, lê-se no comunicado.O presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo adiantou que “o que está a ser criado é um talude, não é um muro”, e especificou que um talude “é um conjunto de pedras colocadas num ângulo que permite a absorção da energia das ondas”, pelo que o mar não irá galgar aquela zona.“O resto é construído sobre uma restinga em pedra, não tem contacto direto com o mar e depois tem ligação com um conjunto de proteções que estão na zona portuária, que tem a ver com o molhe do porto”, prosseguiu.Álamo Meneses afirmou ainda que parte das acusações da AST são “completamente fora da realidade”, porque “não há nenhum forte do Espírito Santo e nunca houve nenhum forte naquela zona”.“Lamento que os senhores surfistas não tenham estudado bem a sua lição e tenham escrito um conjunto de coisas que mostram um profundo desconhecimento da realidade naquele lugar”, disse o socialista.A totalidade da obra, um investimento de 600 mil euros, implica também “a construção de um caminho, que 90% dele é construído em terra”, e liga a zona do Biscoitinho e o Terreiro.Os surfistas referem que o projeto “não tem apenas por objetivo proteger as pessoas e os bens”, motivo que isentou a obra de avaliação de impacte ambiental, “mas a construção de uma zona balnear e aproveitamento para a construção de um passeio pedonal de ligação à já existente zona balnear do Negrito, a uns escassos 950 metros”.“É uma filosofia de uso de dinheiro público, no mínimo, discutível”, considera a AST, esclarecendo que “não está contra os investimentos na freguesia de São Mateus da Calheta, desde que potenciam efetivamente o desenvolvimento socioeconómico de uma localidade com uma importância assinalável”.Para o presidente da câmara, “pelo contrário, este investimento irá valorizar uma zona que está em franco crescimento”.“É uma zona que foi, durante muitos anos, uma zona socialmente muito deprimida, muito pobre, e felizmente está-se a conseguir contrariar, está-se a criar uma ligação entre duas zonas que, nesta altura, já são fortemente visitadas, o que vai permitir um desenvolvimento socioeconómico a essa zona”.