Câmara de Montalegre avança para tribunal para travar exploração de lítio
Governo/demissão
8 de nov. de 2023, 10:50
— Lusa/AO Online
A informação foi avançada à agência Lusa pela presidente daquele município do norte do distrito de Vila Real, Fátima Fernandes.“Vamos
interpor uma ação administrativa e providência cautelar no tribunal
para parar a exploração na mina do Romano”, afirmou a autarca
socialista, lembrando que a autarquia está contra o projeto da empresa
Lusorecursos.Quanto à investigação
revelada na terça-feira e que levou à demissão do primeiro-ministro,
António Costa, Fátima Fernandes disse confiar “totalmente na justiça”,
que, acredita, “fará o seu caminho e irá apurar aquilo que houver a
apurar”.A investigação visa as concessões
de exploração de lítio nas minas do Romano (Montalegre) e do Barroso
(Boticas, também no distrito de Vila Real), um projeto de central de
produção de energia a partir de hidrogénio em Sines (distrito de
Setúbal) e o projeto de construção de ‘data center’ desenvolvido na Zona
Industrial e Logística de Sines pela sociedade Start Campus.Os
dois projetos mineiros obtiveram uma Declaração de Impacte Ambiental
(DIA) favorável, mas condicionada à concretização de medidas de
compensação e de mitigação. Fátima Fernandes especificou que a ação judicial pretende impedir que a mina do Romano avance para a fase de exploração.“Porque
consideramos que há matéria que nos permite fazer esta ação
administrativa e porque verdadeiramente consideramos que é um projeto
que não traz nada de bom para o nosso território”, justificou.A
autarca apontou para o impacte “muito negativo” na água da barragem do
Alto Rabagão, um bem que considerou essencial quer para o consumo
público, quer para a alimentação dos animais e a irrigação dos campos.Além
disso, indicou a necessidade de proteger o lobo-ibérico, considerou um
contrassenso “destruir a natureza em nome do ambiente” e disse ainda que
“não se pode considerar normal desalojar” pessoas que residem na zona
onde vai ser implantada a mina.“E temos um
projeto muito maior que é o facto de sermos Património Agrícola
Mundial. Esse, sim, é que nos pode projetar para o futuro, temos a
certeza disso”, defendeu. A mina de
lítio do Romano obteve em 07 de setembro uma DIA favorável condicionada
por parte da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que impõe a alocação
de ‘royalties’ ao município de Montalegre, medidas compensatórias para
as populações locais e de minimização para o lobo-ibérico.A Lusorecursos já disse que tenciona iniciar a exploração mineira em 2027.A
Associação Montalegre Com Vida, criada para lutar contra a exploração
mineira, disse que a investigação divulgada na terça-feira “põe em causa
toda a lisura do procedimento na atribuição da concessão de exploração
do lítio em Montalegre”.Por isso mesmo, exigiu às entidades competentes que “ajam em conformidade e procedam à anulação de todo o processo”.Desde o início que a associação apontou para “a falta de transparência” no processo.A
concessão mineira do Romano foi assinada em 28 de março de 2019 entre a
Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) e a Lusorecursos Portugal
Lithium, uma empresa constituída três dias antes da assinatura do
contrato. Na terça-feira, o
primeiro-ministro pediu a sua demissão ao Presidente da República,
Marcelo Rebelo de Sousa, que a aceitou, após o Ministério Público
revelar que o chefe do Governo é alvo de uma investigação autónoma do
Supremo Tribunal de Justiça sobre os projetos de lítio e hidrogénio. Marcelo
Rebelo de Sousa convocou para hoje os partidos para uma ronda de
audiências no Palácio de Belém, em Lisboa, e vai reunir o Conselho de
Estado na quinta-feira.