Camané prepara colaboração com Mário Laginha sem pensar ainda em novo disco
10 de dez. de 2018, 12:11
— Lusa/AO Online
O
fadista, que falou à agência Lusa, na ilha de São Miguel, onde tocou este fim de
semana adiantou, sobre “Aqui Está-se Sossegado”, o novo projeto em que
canta o fado acompanhado pelo pianista Mário Laginha, que esta etapa
representa um regresso às origens. “O fado, quando começou, era tocado ao piano”, explicou.E
prosseguiu: "Só mais tarde se tornaria [ao fado] mais fácil tocá-lo"
com "a guitarra portuguesa, a viola… primeiro, a guitarra portuguesa,
depois, passados muitos anos, a viola e depois o baixo e o contrabaixo".Sobre o projeto com o pianista, esclareceu que a ideia não passa por “fazer uma mistura de fado com jazz".“O
Mário tem essa particularidade de conseguir entrar num estilo musical e
dar-lhe uma perspetiva bastante boa, mas verdadeira e autêntica”,
afirmou.Esta
não é a primeira vez que os dois músicos se juntam em palco e o fadista
admitiu a possibilidade de virem a gravar alguns dos temas construídos
para este projeto, mas só “passado algum tempo”, depois de terem “rodado
muito as coisas e tocado muito”. “Nós
vamos correr alguns riscos de tocarmos muitas músicas pela primeira vez
e isso é engraçado, esse lado, é o inverso de tudo o que se faz. Também
faz sentido”, afirmou o artista.O
cantor apresentou, no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada,
alguns dos temas mais marcantes da sua carreira, passando também pelo
álbum mais recente, “Camané canta Marceneiro”, distinguido com o Prémio
Manuel Simões para Melhor Disco de Fado.No
disco de homenagem a Alfredo Marceneiro, Camané celebra também os seus
poetas: “Havia um certo preconceito, que tinha a ver com uma certa
ignorância” em relação aos poetas populares. “Fiquei
com uma ideia que um dia iria gravar estas letras, estes poemas destes
poetas populares: o Silva Tavares, o Linhares Barbosa, o Carlos Conde, o
Henrique Rego, que eram poetas que eu acho que estão muito para além de
serem simples poetas populares, são muito mais do que isso”, disse.Camané
começou “a ouvir o fado, baixinho, quando tinha nove ou dez anos”,
porque “não queria que soubessem que estava a ouvir fado”, um hábito que
mantém, porque gosta de o ouvir “sozinho, muito concentrado”.“O
fado que eu aprendi é aquele que eu aprendi com os antigos, e é esse
que eu tento transmitir, que nunca é velho, é uma coisa antiga que há
sempre para o futuro”, declarou à Lusa.Sobre
a nova geração de fadistas, diz ter “um orgulho enorme” em “sentir que
há este interesse por esta música”, mas admite que há “pessoas que
realmente vêm para o fado para terem sucesso, como está na moda, é um
caminho fácil, mas depois não têm essa autenticidade”.Ainda assim, garante que “aquilo que é verdade, aquilo que é autêntico, fica, porque o fado é uma coisa para a vida”.Para
o futuro próximo, Camané não antevê a gravação de nenhum álbum: “Agora,
não sei e nunca planeio, porque, para já, não faço álbuns todos os
anos. Demora imenso tempo...".Por
agora, com Mário Laginha, vai correr os teatros e as salas em Portugal
com “Aqui Está-se Sossegado”, atuando, em 26 de janeiro, na Casa da
Música, no Porto e, em 09 de fevereiro em Águeda.