Cagarros dos Açores inspiram criação de manto com plástico marinho reciclado

15 de out. de 2023, 15:52 — Lusa /AO Online

Tudo começou quando Joana Ávila, uma profissional do ‘marketing’, criou a marca Begs&Bags em 2021, destinada a alertar para a poluição marinha, através da história ficcional de uma cachalote chamada Begs, nascida nos Açores.A Begs, cuja odisseia está publicada em dois livros – um destinado aos mais novos e outra para pessoas a partir dos nove anos – inicia uma viagem até ao Japão para partilhar a história de como os Açores deixaram de caçar baleias para se dedicarem à observação.“Tudo tem a ver com a viagem da Begs, este cachalote que nasceu nos Açores, mas que está a viajar para o Japão, porque quer contar como nós aqui deixámos de caçar baleias. Ela está convencida de que eles vão seguir o nosso exemplo quando ouvirem a história”, explica Joana Ávila à agência Lusa.Como a cachalote açoriana descobriu os cagarros durante o percurso, nasceu uma peça de moda destinada a divulgar a ave marinha, designada MantoQR Collection, que foi apresentada na AR&PA – Bienal Ibérica de Património Cultural, que começou na quinta-feira em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, e termina hoje.“Ao longo deste projeto procurei sempre não ser crítica, mas antes celebrar as vitórias. Celebrei a vitória de termos parado de caçar baleias. Agora vou celebrar a preservação dos cagarros que tem sido feita. Em dez anos, já salvamos mais de 50 mil cagarros através da campanha SOS Cagarro”, afirma.O lançamento da peça coincide com época de migração dos cagarros e com arranque da Campanha SOS Cagarro (começou no sábado em Santa Maria), implementada pela primeira vez em 1995 pelo Governo Regional, em parceria com várias instituições.O manto, criado com plástico marinho reciclado, é inspirado no 'furoshiki' japonês (um pano de embrulho reutilizável) e apresenta várias utilidades conforme a disposição: “o mesmo pano dá para fazer um saco, uma mochila, uma toalha e até um vestido”.Cada peça contém um ‘código QR’ que apresenta um conto sobre a “campanha linda” que “envolve cidadãos, instituições privadas e públicas” na proteção do cagarro nas ilhas açorianas, onde 75% da população mundial nidifica.“É um conto, uma ficção, em que tento de forma lúdica contar o comportamento dos cagarros e o sucesso da campanha. É uma história de amor e de esperança. Se nós humanos nos unirmos podemos conseguir muita coisa. É essa a principal mensagem”, conta.O cagarro também é evocado pelo “movimento do tecido” e pelo “brilho” do MantoQR Collection, que vai “estar brevemente” à venda na Internet em formato de pré-venda para “evitar o desperdício”.Joana Ávila, que tem a “base” em Amesterdão, mas que divide o tempo entre os Países Baixos, a Terceira e a Ásia, já tinha criado uma outra peça a partir de material reciclado com a chancela da Begs&Bags, designada AzoreanHood, inspirada no tradicional capote e capelo dos Açores.Para Joana Ávila, que continua a “viver do ‘marketing’”, a Begs é um “projeto pessoal” que utiliza a moda como “chamada de atenção” para a necessidade de preservar os oceanos.“A Begs&Bags continua a ser o meu projeto pessoal. É onde ponho aquilo que acredito. Representa tudo o que eu gosto e tudo aquilo que me preocupa. É o contributo que quero deixar”, salienta.