Cadela Lola estreia apoio a universitários para prevenir doença mental
4 de out. de 2023, 15:48
— Lusa7Cecília Malheiro
No dia em que se assinala o Dia Mundial do
Animal, 4 de outubro, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar
(ICBAS), da Universidade do Porto, iniciou a primeira sessão assistida
por animais destinada a todos os estudantes do ensino superior que
precisem de apoio na área da saúde mental, designadamente para combater a
ansiedade e o stress, mas também o 'burnout’, avançou à Lusa a
coordenadora do Gabinete de Apoio ao Estudante do ICBAS, Isabel
Lourinha, psicóloga em Clínica e Saúde e doutorada em Medicina
Biomedicina.“Hoje, o que aconteceu aqui,
foi uma atividade assistida pela cadela [Lola], em que o objetivo
terapêutico é a redução do stress imediato”, contou Isabel Lourinha,
acrescentando que o que se nota nos estudantes de ensino superior é um
aumento da “ansiedade e da solidão”, muito derivado às “novas
tecnologias" que contribuem para a falta de contacto presencial, físico e
também a falta do humano.A sessão arranca
com os alunos sentados em pufes pretos e a estrutura no início é que a
cadela Lola se vá ambientando aos estudantes através do olfato,
cheirando-os e pedindo festinhas. Depois de algumas tarefas
desenvolvidas com os estudantes num contexto de sala, há a fase do
“efeito espelho”, onde Lola vai refletir o estado de ânimo do aluno,
porque a forma como o estudante se comporta com ela também tem
implicação no comportamento da cadela, explicou.Nos
últimos anos, principalmente pós-pandemia, Isabel Lourinha recorda que
recebe vez mais pedidos de consulta e esta atividade com a cadela Lola
vem no sentido de tentar promover a saúde mental, tentando trabalhar
antes de o problema surgir e tentando prevenir que as situações de
ansiedade, stress ou 'burnout' venham a ocorrer.“Sentimos
um aumento essencialmente de níveis de ansiedade. Inclusivamente,
fizemos um estudo e verificámos que, de maneira geral, em todos os
nossos cursos os estudantes tiveram níveis consideráveis de ‘burnout’,
sem exceção, no curso em que estavam”.O
‘burnout’ é um estado de exaustão emocional e cognitiva, porque o corpo
esteve num estado de alerta constante por vários motivos.“Estamos
numa escola que tem a perspetiva de ‘one health’, em que se considera
uma abordagem que a saúde é a intersecção do humano, do ambiente e do
animal e que todos se relacionam e que, se uma parte for afetada, todas
as outras estão afetadas. E a covid-19 mostrou exatamente isso”.Mercedes
Fernandes, estudante do 5.º ano de Medicina no ICBAS, conta que gosta
muito de animais, principalmente de cães, e considera que este tipo de
atividades é inovadora nas faculdades e que a pode ajudar a lidar com o
“muito exigente” curso de medicina.“O
curso em si é bastante exigente e causa muito stress em qualquer
contexto e acho que, depois da [pandemia] da covid-19, houve uma grande
decadência na saúde mental pelo que vi comigo e com os meus amigos.(...)
Esta atividade com a Lola, pelo menos para quem gosta de animais e não
tem medo, acho que permite combater essa parte”.Lola
tem um ano e meio de idade, cor preta com manchas castanhas, fez
formação intensiva de animas e é também a “embaixadora da causa animal”,
porque vem de um canil, referiu Luísa Guardão, veterinária e treinadora
da Lola.A treinadora e dona da Lola
destaca que os animais de cor escura raramente têm oportunidade para
sair dos canis e, por isso, Lola vem ajudar também a contrariar esse
estigma, promovendo o não abandono dos animais.Sobre
a estreia de Lola com os universitários, Luísa Guardão afirma que Lola,
no contexto em que foi colocada respondeu “lindamente”.O
ICBAS vai avançar em novembro, na época dos exames e frequências dos
estudantes do ensino superior, com uma “experiência piloto”, onde a Lola
vai também participar.“É exatamente
quando há o pico da ansiedade para o estudante” e a experiência piloto
vai servir para ver se contribui “para um decréscimo” da ansiedade dos
alunos.No dia 10 de outubro assinala-se o dia da Saúde Mental.