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Cabo Verde quer seguir modelo cooperativo agrícola dos Açores

Cabo Verde quer criar um Código Cooperativo e está a inspirar-se no modelo açoriano, tendo recorrido ao consultor e antigo diretor regional, Fernando Sousa, para dar formações aos técnicos e aos agricultores sobre como podem organizar-se e gerir melhor a agricultura


Autor: Rui Jorge Cabral

O arquipélago de Cabo Verde, um dos cinco países africanos de Língua oficial portuguesa, quer adotar o modelo cooperativo dos Açores na sua agricultura e, para tal, tem contado com a ajuda de um açoriano, Fernando Sousa, consultor e antigo diretor regional na área da Agricultura e do Desenvolvimento Rural. 

Fernando Sousa dirigiu já duas ações de formação  em Cabo Verde: a primeira em abril, direcionada para os técnicos do Ministério da Agricultura e Ambiente de Cabo Verde e a segunda em julho, direcionada para os agricultores que se pretendem organizar em cooperativas e também para os dirigentes das cooperativas já existentes em Cabo Verde. 


Fernando Sousa foi convidado pelo Ministério da Agricultura e Ambiente de Cabo Verde, como formador/consultor, na sequência do projeto ‘Semear Colher e Vender’, que envolveu a ASDEPR, a ARDE, a AASM e o Governo Regional dos Açores e de que foi coordenador técnico.

Mas também com base na sua experiência enquanto responsável da direção regional da Agricultura e da direção regional do Desenvolvimento Rural, entre 2014 e 2018. 

Refira-se igualmente que o ano de 2025 é o Ano Internacional das Cooperativas, sendo que Cabo Verde não tem legislação exclusiva para o cooperativismo, como existe em Portugal, nomeadamente o Código Cooperativo. 

Além disso, as cooperativas em Cabo Verde estão inseridas no código das sociedades comerciais, estando o governo cabo-verdiano neste momento a trabalhar na lei que vai criar o Código Cooperativo de Cabo Verde. 

A formação ministrada por Fernando Sousa em Cabo Verde teve, por isso, ainda a intenção de ajudar os técnicos do Ministério da Agricultura e Ambiente a criarem legislação de apoio às cooperativas agrícolas, baseada no exemplo das iniciativas açorianas nessa área, nomeadamente o Programa PAGOP e o Decreto Regulamentar 22/2011/A. 

Na formação para os dirigentes cooperativos, foram mostrados “vários bons exemplos de cooperativas dos Açores, quer no fornecimento de apoio técnico e fatores de produção aos agricultores, quer na produção, transformação e comercialização dos produtos agrícolas, como o leite, as hortícolas, a fruta, as flores, o vinho e o mel”, explicou Fernando Sousa em declarações ao Açoriano Oriental. 

Conforme refere o consultor no setor agrícola, “as ações de formação para mim foram uma surpresa agradável, porque vi muita motivação e vontade de adaptar o nosso exemplo à realidade de Cabo Verde. E também da parte deles, acho que ficaram bastante motivados porque desconheciam praticamente a nossa realidade”.

E quais são os setores agrícolas com maior potencial em Cabo Verde? Conforme explica Fernando Sousa, “os setores com maior potencial em Cabo Verde são as hortícolas, porque eles têm uma dependência externa muito grande de hortícolas. Mas também nas frutícolas, um vez que eles têm muito boa fruta, nomeadamente frutos tropicais, mas cuja produção está muito dispersa e não está organizada para fornecer em qualidade e quantidade nos mercados mais exigentes”.

Existe, por isso, potencial para crescer no abastecimento interno e até no setor da carne, nomeadamente ao nível dos ovinos e caprinos, mas também no setor dos laticínios derivados de ovelha e de cabra. 

Por outro lado, quais são as maiores dificuldades de Cabo Verde para se desenvolver do ponto de vista agrícola? Para Fernando Sousa, a resposta é clara: o abastecimento de água para a agricultura.

Isto porque, explica, “eles têm a dificuldade da falta da chuva, mas também têm o problema das infraestruturas”, uma vez que “não há ainda uma estratégia definida e consolidada sobre as infraestruturas agrícolas”. Nesse sentido, Fernando Sousa defende ser necessário, “tal como aqui nos Açores, levar a água a cada vez mais explorações”. Ou seja, “ter uma maior superfície agrícola abastecida com água para que em Cabo Verde se possa desenvolver a agricultura de forma consistente, o que passa também pelas organizações de produtores”.

Fernando Sousa lembra ainda que, nas formações, “exploramos essa temática, porque é através das organizações de produtores que os agricultores ganham força para reivindicar junto do governo e do departamento com responsabilidade na agricultura, a instalação e a construção de sistemas de abastecimento de água nas suas explorações”, conclui.