Bruxelas recomenda três critérios prévios para levantamento de restrições
Covid-19
15 de abr. de 2020, 10:26
— Lusa/AO Online
A presidente da Comissão,
Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, Charles
Michel, apresentaram na sede do executivo comunitário um ‘roteiro’
elaborado em conjunto com orientações para o levantamento das medidas de
contenção da pandemia na União Europeia, numa altura em que diversos
Estados-membros começam a tentar regressar gradualmente à ‘normalidade’.Para
Bruxelas, três critérios-chave devem presidir à decisão dos
Estados-membros de começarem a levantar as medidas restritivas: os dados
epidemiológicos devem mostrar que a propagação do novo coronavírus
diminuiu significativamente e estabilizou; os sistemas de saúde devem
ter suficiente capacidade de resposta, designadamente a nível de
cuidados intensivos, camas disponíveis e acesso a medicamentos e
produtos farmacêuticos; e, por fim, deve haver uma capacidade de
monitorização apropriada, incluindo capacidade de testes em grande
escala para detetar a propagação do vírus e eventuais novas vagas. O
‘roteiro’ elaborado pela Comissão Europeia com o contributo do
presidente do Conselho Europeu estabelece também três “princípios
básicos” que devem orientar a ação dos Estados-membros: as medidas devem
ser baseadas na ciência e ter a saúde pública como ponto central, deve
haver “respeito e solidariedade” entre os Estados-membros, e toda a ação
deve ser coordenada entre os 27.Relativamente
a este último ponto, no qual Bruxelas tem insistido muito, o documento
sublinha que “uma falta de coordenação no levantamento das medidas
restritivas pode ter efeitos negativos para todos os Estados-membros e
criar fricções políticas”.“Embora não haja
uma abordagem única que sirva para todos, no mínimo os Estados-membros
devem notificar-se uns aos outros e à Comissão Europeia em tempo útil
antes de anunciarem o levantamento das medidas, e devem ter em conta os
outros pontos de vista”, defende Bruxelas.O
‘roteiro’ da Comissão estabelece um conjunto de recomendações para o
processo de levantamento das medidas de contenção da pandemia covid-19,
começando por enfatizar que “a ação deve ser gradual”, isto é, “as
medidas devem ser levantadas em diferentes fases, com tempo suficiente
entre elas para medir o impacto”.“As
medidas gerais devem ser progressivamente substituídas por medidas
específicas”, como por exemplo “proteger os grupos mais vulneráveis
durante mais tempo, facilitar o regresso gradual das atividades
económicas necessárias, intensificar a limpeza e desinfeção regulares
dos centros de transporte, lojas e locais de trabalho, substituir os
estados gerais de emergência por intervenções governamentais específicas
para garantir a transparência e a responsabilidade democrática”.Bruxelas
defende também que “os controlos nas fronteiras internas devem ser
levantados de forma coordenada” e as restrições às viagens e os
controlos nas fronteiras devem ser suprimidos apenas “quando a situação
epidemiológica das regiões fronteiriças convergir suficientemente”,
sendo que “as fronteiras externas devem ser reabertas numa segunda fase e
ter em conta a propagação do vírus fora da UE”.Também
o relançamento da atividade económica deve ser faseado, argumenta o
executivo comunitário, apontando que “há vários modelos que podem ser
implementados, como por exemplo, empregos adequados ao teletrabalho,
importância económica, turnos de trabalhadores”.“Toda a população não deve regressar ao local de trabalho ao mesmo tempo”, adverte Bruxelas.Quanto
ao ajuntamento de pessoas, o ‘roteiro’ de Bruxelas defende que este
deve ser “progressivamente permitido”, devendo os Estados-membros
refletir sobre a sequência mais adequada, tendo em conta as
especificidades das diferentes categorias de atividades, começando por
exemplo por escolas e universidades, com medidas específicas, passando
pela atividade comercial (lojas) e atividade social (cafés e
restaurantes), com eventuais limites para número máximo de pessoas
permitidas, e terminando nas grandes concentrações de massas, como
concertos e festivais.“Quero tornar claro
que este não é um sinal de que as medidas de confinamento e contenção
podem ser levantadas a partir de agora, tenciona antes fornecer um
quadro para as decisões dos Estados-membros. Em termos gerais,
recomendamos uma abordagem gradual, e cada ação deve ser continuamente
monitorizada”, declarou Ursula von der Leyen na conferência de imprensa.A
apresentação deste “roteiro” europeu para o levantamento das medidas de
contenção da covid-19 já esteve agendado para a semana passada, mas a
reação negativa de diversos Estados-membros – que recearam que Bruxelas
enviasse deste modo um sinal negativo - levou o executivo comunitário a
recuar e a aprofundar uma questão que admitiu ser “muito delicada” e que
reconhece ser da competência dos países.