Bruxelas quer preços fixos na luz, vizinhos a partilhar solar e regulação em crises
14 de mar. de 2023, 17:07
— Lusa
As
medidas constam da proposta da reforma da conceção do mercado de
eletricidade da União Europeia (UE) para impulsionar as energias
renováveis, proteger melhor os consumidores e aumentar a competitividade
industrial, hoje divulgada pelo executivo comunitário, na qual a
instituição europeia defende, como a Lusa já tinha avançado, “uma ampla
escolha de contratos” para que os clientes europeus “tenham a opção de
fixar preços seguros a longo prazo, a fim de evitar riscos excessivos e
volatilidade”.Na proposta, a Comissão
Europeia apoia também a opção de “contratos de preços dinâmicos para
tirar partido da variabilidade de preços para utilizar eletricidade
quando esta é mais barata”, por exemplo, para carregar carros elétricos
ou utilizar bombas de calor, exigindo que “os fornecedores administrem
os seus riscos de preços pelo menos até ao limite dos volumes previstos
nos contratos fixos, a fim de [os consumidores] estarem menos expostos
aos picos e à volatilidade do mercado”, segundo a informação à imprensa.Para
proteger os consumidores (famílias ou empresas de menor dimensão) mais
vulneráveis, Bruxelas sugere que os Estados-membros atuem nos preços a
retalho perante situações de crise para evitar que quem tem contas em
atraso fique sem luz, pedindo que os países que não o têm criem
fornecedores de último recurso.A ideia é,
de acordo com a proposta, que quando for declarada na UE uma situação de
crise esteja previsto que os Estados-membros intervenham para “alargar
os preços de retalho regulamentados aos agregados familiares e às
pequenas e médias empresas”, por um período determinado e sem distorcer o
mercado, como aconteceu na atual crise energética.Outra
medida para proteger os consumidores é a possibilidade de partilha de
energia renovável, numa altura em que as regras ao nível europeu “estão
também a ser reformuladas”.“Os
consumidores poderão investir em parques eólicos ou solares e vender
eletricidade solar em excesso aos vizinhos e não apenas ao seu
fornecedor e, por exemplo, os inquilinos poderão partilhar o excesso de
energia solar em telhados com um vizinho”, propõe a Comissão Europeia.Além
disso, para melhorar a flexibilidade do sistema energético, está
previsto que os Estados-membros criem medidas de apoio para aumentar o
armazenamento.Na proposta, são ainda
mencionadas as metas de redução de consumo na UE para reduzir a pressão
sobre os preços, com Bruxelas a assinalar que, “com base na experiência
adquirida durante a crise” energética, a reforma alarga “o conjunto de
medidas para reduzir o consumo de gás no setor da energia”.“Quanto
mais apoiarmos o desenvolvimento de fontes de energia renováveis […],
menos os nossos sistemas elétricos dependerão da produção de
combustíveis fósseis e mais baixos os preços da luz serão”, adianta a
Comissão Europeia na proposta.Em Portugal,
o plano de poupança de energia em vigor prevê uma redução de 15% do
consumo energético, como estipulado para toda a UE, embora com
derrogações dada a situação nacional que baixam a diminuição obrigatória
para 7%.Nos últimos meses, os preços da
luz subiram acentuadamente na UE, motivando críticas à sua formulação,
condicionada pelos preços do gás, situação que a Comissão Europeia quer
reverter.Na atual configuração do mercado
europeu, o gás determina o preço global da eletricidade quando é
utilizado, uma vez que todos os produtores recebem o mesmo preço pelo
mesmo produto — a eletricidade — quando este entra na rede.Na
UE, tem havido um consenso de que este atual modelo de fixação de
preços marginais é o mais eficiente, mas a acentuada crise energética,
exacerbada pela guerra da Ucrânia, tem motivado discussão, dada a
dependência europeia dos combustíveis fósseis russos.