Bruxelas propõe novo instrumento para aquisições conjuntas de armamento
19 de jul. de 2022, 11:41
— Lusa/AO Online
“Hoje estamos
a dar um passo histórico em frente na integração da defesa europeia. À
medida que a guerra grassa nas fronteiras da Europa, estamos a responder
ao apelo dos chefes de Estado e de Governo da UE, apresentando hoje um
novo instrumento para apoiar, a nível europeu, a aquisição conjunta de
armamento”, disse o comissário europeu do Mercado Interno, Thierry
Breton, numa conferência de imprensa em Bruxelas.O
comissário sublinhou que esta proposta visa “criar um incentivo,
através do orçamento da UE, para que os Estados-Membros comprem em
conjunto” material de defesa, “além de ajudar a reconstituir parte dos
stocks [dos Estados-membros] após a transferência de armas para a
Ucrânia”. “Os Estados-membros têm estado a
utilizar [para fornecer a Kiev] os seus stocks de munições, artilharia
leve e pesada, sistemas de defesa antiaérea e antitanque, e mesmo
tanques e blindados. Isto criou uma vulnerabilidade de facto, que agora
precisa de ser abordada urgentemente", explicou Breton, que se
congratulou por “a defesa da Europa” estar a dar “grandes passos em
frente”.A Comissão lembra que está a
“cumprir o seu compromisso de criar um instrumento comunitário de curto
prazo que reforce as capacidades industriais de defesa europeias através
de aquisições comuns por parte dos Estados-membros da UE”, cuja
necessidade foi reconhecida numa comunicação em maio passado sobre as
lacunas de investimento na defesa.O
instrumento hoje proposto, em resposta ao pedido do Conselho Europeu,
“visa responder às necessidades mais urgentes e críticas de produtos de
defesa, resultantes da agressão da Rússia contra a Ucrânia” e, segundo
Bruxelas, “incentivará os Estados-membros, num espírito de
solidariedade, a adquirir em comum” e “facilitará o acesso de todos os
Estados-membros aos produtos de defesa urgentemente necessários”.Da
mesma forma, “evitará a concorrência entre os Estados-Membros pelos
mesmos produtos e facilitará a poupança de custos”, reforçando ao mesmo
tempo a interoperabilidade e permitindo à Base Tecnológica e Industrial
de Defesa Europeia “melhor ajustar e aumentar as suas capacidades de
fabrico para fornecer os produtos necessários”. A
Comissão Europeia especifica que este instrumento “apoiará ações de
consórcios compostos por pelo menos três Estados Membros” e “as ações
elegíveis podem envolver novos projetos de aquisição de defesa ou a
extensão dos que foram lançados desde o início da guerra” na Ucrânia.Em
18 de maio, a Comissão adotara uma comunicação encomendada pelos
líderes europeus na cimeira de Versalhes celebrada em março passado face
às debilidades do setor de defesa europeu, propondo uma série de
medidas para reforçar a base industrial e tecnológica da defesa
europeia, recomendando desde logo aos 27 que avancem para aquisições
conjuntas, uma proposta agora formalizada com um incentivo de 500
milhões de euros.Bruxelas sublinha que
adotou esta proposta de regulamento com elevada prioridade, face à
“urgência da situação”, e diz contar com “uma rápida adoção” por parte
do Conselho e Parlamento Europeu, “a fim de poder, até ao final de 2022,
apoiar os Estados-membros a responderem às suas necessidades mais
urgentes e críticas em matéria de produtos de defesa de uma forma
cooperativa”. Portugal é um dos países que
tem defendido esta solução, tendo o primeiro-ministro, António Costa,
sublinhado numa das recentes cimeiras a importância de os 27
desenvolverem “um conjunto de investimentos conjuntos ou processos de
compras conjuntas ou redes de investigação em conjunto”, de forma a
“ganhar sinergias” e criar “cadeias de valor integradas no mercado
europeu, que ajude a reforçar a base económica da Europa de uma forma
descentralizada, em todos os Estados-membros”.“Portugal
quer ser naturalmente um parceiro ativo da União na construção desta
autonomia estratégica na capacidade de produção destes materiais”,
disse.A Comissão reiterou também hoje o
compromisso de propor, previsivelmente ainda no terceiro trimestre deste
ano, um regulamento sobre o Programa Europeu de Investimento na Defesa
(EDIP), “que servirá de âncora para futuros projetos conjuntos de
desenvolvimento e aprovisionamento de elevado interesse comum para a
segurança dos Estados-membros e da União”.