Bruxelas espera que veto ao orçamento da UE seja rapidamente ultrapassado
16 de nov. de 2020, 17:53
— Lusa/AO Online
Pouco
depois de Varsóvia e Budapeste terem hoje bloqueado a aprovação do
Quadro Financeiro Plurianual para os próximos sete anos, por não
concordarem com o mecanismo que condiciona o acesso aos fundos
comunitários ao respeito do Estado de Direito, o vice-presidente
executivo da Comissão Europeia Valdis Dombrovskis, intervindo numa
videoconferência empresarial europeia, sublinhou que a Europa necessita
urgentemente de dinheiro para iniciar a retoma, apelando por isso a que
esta questão seja ultrapassada sem demoras.“Acho
que é necessária uma resolução rápida desta situação. É urgente
dinheiro para a recuperação europeia […] Espero que todas as partes
tenham noção da sua responsabilidade e estejam perfeitamente conscientes
de que o dinheiro é necessário”, declarou, lamentando que já não seja
possível que todos os fundos estejam disponíveis em 01 de janeiro
próximo.Além disso, notou que a questão da
condicionalidade ao respeito pelo Estado de Direito já constava da
proposta original da Comissão e fazia parte do ‘pacote’ acordado pelos
líderes europeus em julho, naquela que foi a segunda cimeira mais longa
da história da UE, pelo que “é um tema que já foi discutido durante
muito tempo” e não deve ser reaberto.Também
o comissário europeu do Orçamento, Johannes Hahn, recorreu à sua conta
oficial na rede social Twitter para dar conta da sua frustração com o
bloqueio hoje verificado, apenas poucos dias depois de os negociadores
do Conselho e do Parlamento terem chegado a um acordo político sobre o
Quadro Financeiro para 2021-2027, que deverá ainda ser oficializado por
ambas as instituições.“Dececionado por os
Estados-membros não terem podido avançar no acordo sobre o Quadro
Financeiro Plurianual e o Fundo de Recuperação. Exorto os
Estados-membros a assumirem a sua responsabilidade política e a dar os
passos necessários para finaliza o pacote inteiro. O que está em causa
não são questões ideológicas, mas sim ajudar os nossos cidadãos na pior
crise desde a II Guerra Mundial”, escreveu.Hoje,
numa reunião de embaixadores dos 27 junto da União Europeia, em
Bruxelas, o mecanismo do Estado de direito – que necessitava apenas de
aprovação por maioria qualificada – foi aprovado, mas os recursos
próprios (a possibilidade de a UE ir aos mercados emitir dívida) – para a
qual era necessária a unanimidade – foram vetados pela Polónia e a
Hungria, bloqueando a aprovação do pacote total.“Na
decisão dos recursos próprios, os embaixadores da UE não conseguiram
chegar à unanimidade necessária para iniciar o procedimento de redação,
devido a reservas expressas por dois Estados-membros”, referiu um dos
porta-vozes da presidência alemã, Sebastian Fischer, na rede social
Twitter. O porta-voz sublinhou também que,
relativamente ao Quadro Financeiro Plurianual e ao Fundo de
Recuperação, “dois Estados-membros emitiram reservas relativamente (…) a
um elemento no conjunto do pacote, mas não à substância do acordo”.Enquanto
a reunião entre os embaixadores decorria, o porta-voz do governo
húngaro, Zoltan Kovacs, justificou o veto húngaro através da rede social
Twitter.“Não podemos aprovar o plano na
sua forma atual, ligando o critério do Estado de direito às decisões
orçamentais, porque é contrário às conclusões da cimeira de julho
[quando foi aprovado o orçamento da UE]”, referiu o porta-voz húngaro no
‘tweet’. Interrogando-se sobre se o
bloqueio hoje formalizado poderá iniciar uma crise, Kovacs sublinhou que
“o fardo da responsabilidade” não repousa na Hungria, mas “naqueles que
criaram a situação”, mesmo conhecendo “a postura bem articulada da
Hungria”. A postura de Budapeste e
Varsóvia já tinha sido clarificada por representantes dos dois países
desde o anúncio do mecanismo do Estado de direito a 05 de novembro.Na
quinta-feira, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, tinha
enviado uma carta aos dirigentes da UE em que afirmava que a Polónia
“não podia aceitar” o mecanismo de condicionalidade do orçamento
plurianual ao respeito pelo Estado de Direito.O
veto hoje imposto pela Hungria e Polónia deveu-se ao acordo para um
mecanismo que condiciona o acesso ao orçamento plurianual da UE ao
respeito do Estado de direito, feito entre a presidência alemã do
Conselho da UE e o Parlamento Europeu (PE) a 05 de novembro.Em
julho passado, o Conselho Europeu aprovou um Quadro Financeiro
Plurianual para 2021-2027 de 1,074 biliões de euros – que após as
negociações com o PE ascenderá a mais de 1,08 biliões - e um Fundo de
Recuperação de 750 mil milhões para fazer face à crise gerada pela
covid-19.