Bruxelas confia em avanço na lei dos salários mínimos durante presidência portuguesa da UE
3 de jun. de 2020, 15:31
— Lusa/AO Online
“Sei que a presidência alemã [da UE, no
segundo semestre deste ano] está muito atenta a esta proposta. Depois da
presidência alemã, teremos a presidência portuguesa e, seguramente, a
ministra do Trabalho [Ana Mendes Godinho], mas também o
primeiro-ministro [António Costa] estarão empenhados em conseguir
resultados nesta proposta importante”, afirmou o comissário europeu do
Emprego e dos Direitos Sociais, Nicolas Schmit, em entrevista à agência
Lusa, em Bruxelas, que será publicada na íntegra na quinta-feira.“Sei
que a presidência portuguesa também será bastante ativa no pilar dos
direitos sociais, ao [pretender] organizar uma cimeira de alto nível
relacionada com a dimensão social”, acrescentou o responsável
luxemburguês, acreditando que Portugal conseguirá “progressos para esta
proposta”.Nicolas Schmit falava à Lusa no
dia em que a Comissão Europeia adotou, no colégio de comissários, uma
nova consulta às organizações sindicais e patronais da UE para avançar
com a instituição de salários mínimos “justos”.“Vamos
começar esta segunda fase de consultas com opiniões dos parceiros
sociais sobre a ideia de ter um enquadramento legal para salários
mínimos na Europa” após uma primeira auscultação no início deste ano e,
“depois disso, a Comissão Europeia vai fazer uma proposta formal sobre
um instrumento legal”, explicou o comissário europeu à Lusa.Frisando
que em causa estão apenas “indicadores, critérios e objetivos”, Nicolas
Schmit assegurou que Bruxelas não irá definir montantes iguais para
todos os Estados-membros adotarem, pretendendo antes assegurar proteção
social com base na realidade de cada país.“Os
tratados não nos dão a competência para determinar o montante exato de
salários mínimos ou de pensões e não é o que pretendemos fazer”,
garantiu.O executivo comunitário quer,
antes, assegurar que “todos [os trabalhadores] estão cobertos por um
salário mínimo”, dado alguns países ainda não o terem, e que cada
montante “corresponda a um nível de qualidade de vida decente, o que
significa que não pode ser o mesmo na Bulgária, na Alemanha ou na
Holanda”.Nicolas Schmit escusou-se, porém,
a apontar uma data para esta legislação entrar em vigor, justificando
que “isso tem que ver o Conselho - e com o Parlamento Europeu se for uma
diretiva - e será uma negociação entre Estados-membros”.“Não
podemos dizer que, no final de 2021 ou de 2022, já teremos esta
proposta aprovada”, observou, afirmando, ainda assim, esperar que esta
proposta da Comissão Europeia, que será apresentada no outono, seja
“adotada o mais rapidamente possível”.“Não
quero especular no prazo, mas espero que o trabalho relacionado com
esta proposta possa progredir de forma eficiente”, adiantou Nicolas
Schmit à Lusa.Esta nova fase de consulta aos parceiros sociais decorre até setembro.De
acordo com dados publicados em dezembro passado pela Comissão Europeia,
as variações entre os salários mínimos praticados na Europa continuam a
ser vincadas, oscilando entre os 286 euros na Bulgária e os 2.071 euros
no Luxemburgo (valores de 2019), surgindo Portugal na segunda metade da
tabela, na 12.ª posição entre os 22 países que praticam um vencimento
mínimo.O salário mínimo em Portugal
aumentou em 01 de janeiro deste ano para os 635 euros, face ao valor de
600 euros praticado em 2019, o que, ajustado tendo em conta os 14 meses,
equivale a um aumento de 700 para 740 euros, os valores tidos em conta
nos cálculos do Eurofund para estabelecer uma comparação entre os
Estados-membros.Seis Estados-membros da UE não têm salário mínimo: Áustria, Chipre, Dinamarca, Finlândia, Itália e Suécia.