Bruno Jacinto omitiu à PSP que elementos da claque se iam deslocar à academia
Sporting
18 de nov. de 2019, 18:27
— Lusa/AO Online
O arguido contou que na noite de
14 de maio de 2018 (segunda-feira, véspera do ataque) recebeu um SMS de
Tiago Silva, da direção da Juventude Leonina (JL), informando que
alguns elementos da claque iriam à academia para confrontar verbalmente a
equipa devido à insatisfação pelo não apuramento para a Liga dos
Campeões e aos atritos verificados no Aeroporto da Madeira na noite
anterior.Bruno Jacinto disse ao coletivo
de juízes que nessa noite reportou a situação por mensagem ao então
diretor-geral do clube André Geraldes, na qual mencionava que um grupo
da claque ia à academia para falar com a equipa e o treinador Jorge
Jesus.Na resposta, André Geraldes questionou, ainda nessa noite, “quando”, com o arguido a responder “amanhã” (15 de maio).Em
15 de maio, dia do ataque, por volta da hora de almoço, um elemento dos
‘spotters’ (equipa da PSP responsável pelo acompanhamento das claques),
dado o contexto conturbado que o Sporting vivia e depois do que se
tinha passado no Aeroporto da Madeira, perguntou a Bruno Jacinto se “ia
alguém à academia”, mas o arguido respondeu-lhe que “não sabia se ia
alguém”.A revelação consta de um memorando
escrito por Bruno Jacinto em finais de setembro, inícios de outubro de
2018, a pedido de um vice-presidente do Sporting, que lhe pediu para
colocar por escrito a sua versão dos factos.O
arguido foi confrontado na tarde de hoje com esse documento, que está
junto aos autos, o que levou o coletivo de juízes a questionar Bruno
Jacinto sobre as razões que o levaram a não comunicar à PSP, pelo menos,
de que havia conversas sobre a ida da claque à academia de Alcochete.“Não
achei relevante. Das outras vezes que as claques foram à academia não
se passou nada e não havia ‘spotters’ nem agressões físicas. Não avaliei
a situação dessa forma”, respondeu Bruno Jacinto.Bruno
Jacinto foi o único dos 43 arguidos presentes (Fernando Mendes,
ex-líder da JL, justificou a ausência devido a questões de saúde) a
querer prestar declarações na primeira sessão do julgamento da invasão à
academia do Sporting, em Alcochete, distrito de Setúbal, em 15 de maio
de 2018, que começou na manhã de hoje no Tribunal de Monsanto, em
Lisboa.Este arguido contou que quando
chegou à academia viu cinco elementos da claque JL, arguidos no
processo, entre os quais Fernando Mendes, a falar com o jogador William
Carvalho e outros elementos do 'staff' do clube, numa altura em que o
ataque já tinha acontecido e do qual afirmou nunca ter tido
conhecimento.O ex-funcionário do Sporting
relatou ainda que em abril de 2018, um ou dois dias após a derrota em
Madrid e o ‘post’ feito na rede social Facebook pelo então presidente do
clube Bruno de Carvalho, houve uma reunião na sede da Juve Leo,
conhecida como ‘casinha’, junto ao Estádio de Alvalade, na qual marcaram
presença Bruno de Carvalho, André Geraldes e entre 40 a 50 elementos da
claque Juve Leo, incluindo a sua direção.Entretanto,
a defesa de muitos arguidos pediu que os respetivos constituintes
pudessem estar ausentes durante o julgamento, uns por se encontrarem a
trabalhar, outros por estudarem.O advogado
de Bruno de Carvalho também pediu que ex-presidente do Sporting pudesse
ser dispensado de marcar presença nas audiências, a não ser naquelas
que o tribunal entenda necessário.“Não tem
meio de transporte próprio, tem ocupação profissional, duas horas de
manhã e duas horas à tarde, e está totalmente depauperado”, justificou o
advogado Miguel Fonseca.A presidente do
coletivo de juízes, Sílvia Pires, acedeu aos pedidos de cerca de duas
dezenas de arguidos, incluindo o de Bruno de Carvalho.O
julgamento, que pertence ao Tribunal de Almada, mas por questões de
logística e de segurança realiza-se em Monsanto, em Lisboa, prossegue na
terça-feira e na quinta-feira, com a inquirição de militares da GNR e
agentes da PSP: três de manhã e outros três à tarde, em ambos os dias.Bruno
de Carvalho, que disse ser atualmente comentador, Mustafá e Bruno
Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos, estão acusados, como autores
morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à
integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes
(97 crimes) classificados como terrorismo.Os
três arguidos respondem ainda por um crime de detenção de arma proibida
agravado e Mustafá também por um crime de tráfico de estupefacientes.Aos
arguidos que participaram diretamente no ataque à academia, o MP
imputa-lhes a coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de
ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro,
todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.