Bruno Jacinto informou André Geraldes da ida de elementos da claque à Academia
Sporting
18 de nov. de 2019, 13:27
— Lusa/AO Online
Bruno Jacinto foi o único
dos 43 arguidos presentes (Fernando Mendes, ex-líder da claque,
justificou a ausência devido a questões de saúde) a querer prestar
declarações na primeira sessão do julgamento da invasão à Academia do
Sporting, em Alcochete, distrito de Setúbal, em 15 de maio de 2018, que
começou na manhã de hoje no Tribunal de Monsanto, em Lisboa.O
arguido contou ao coletivo de juízes, presidido por Sílvia Pires, que
não esteve no Aeroporto da Madeira após a derrota frente ao Marítimo, no
qual alguns elementos da claque confrontaram os jogadores, acrescentado
que só teve conhecimento dos desacatos através das televisões.Bruno
Jacinto explicou que chegou a Lisboa, vindo da Madeira, no dia do
ataque, e que, pelas 14h00 (menos uma nos Açores) teve conhecimento através de uma mensagem de
texto (SMS) enviada por Tiago Silva, um dos membros da direção da Juve
Leo, de que alguns elementos da claque iriam à Academia, devido à
insatisfação pelo não apuramento para a Liga dos Campeões e ao que se
tinha passado no Aeroporto da Madeira.O
arguido explicou que “reportou esta situação por mensagem” ao então
diretor-geral do clube André Geraldes, de que alguns elementos da claque
Juve Leo se iam deslocar à Academia, para falarem com jogadores e com o
treinador Jorge Jesus, devido aos maus resultados, e que, desde a sua
criação, em 2004, as claques já tinham ido à Academia quatro a cinco
vezes.Pelas 15h00 de 15 de maio,
encontrou-se com o arguido Tiago Silva junto ao multidesportivo, o qual
lhe confirmou que iam à Academia, mas sem lhe dizer “o que iam lá
fazer”, sublinhando que não teve noção “de quantas pessoas” é que se
iriam deslocar até Alcochete.Bruno Jacinto
afirmou que tentou falar “novamente” com André Geraldes, o qual disse
que reportava ao então presidente do clube Bruno de Carvalho, um dos 44
arguidos, durante várias vezes, por telefone, mas não “obteve resposta”
do diretor-geral do Sporting à data dos factos.Pelas
16h45, como não conseguia falar com André Geraldes, o antigo oficial de
ligação aos adeptos “achou por bem” contactar com o então responsável
pela segurança da Academia Ricardo Gonçalves, o qual lhe perguntou o que
é que os elementos da Juve Leo iam lá fazer.Bruno
Jacinto respondeu que estes elementos da claque iam à Academia para
“confrontar” a equipa “pelo somatório de vários acontecimentos”,
nomeadamente pelos maus resultados, pelo não apuramento para a Liga das
Campeões e os jogadores William Carvalho, Battaglia e Acuna pelos
atritos que ocorreram no aeroporto com alguns destes elementos.O
arguido considerou ser “relevante” passar a informação a Ricardo
Gonçalves, pois era essa a sua função, depois de não ter conseguido
falar com André Geraldes, acrescentando que assim que contactou o
diretor de segurança da Academia, se deslocou para Alcochete, no intuito
de “articular” a ligação entre os adeptos e a equipa do Sporting.Bruno
Jacinto contou que quando chegou à Academia viu cinco elementos da
claque, arguidos no processo, entre os quais Fernando Mendes, a falarem
com o jogador William Carvalho e outros elementos do ‘staff’ do clube,
no momento em que o ataque já tinha acontecido.Questionou o que se tinha passado e disse a Fernando Mendes que o que se passou “não devia ter passado”.O
julgamento, que decorre sob fortes medidas de segurança, parou para
almoço e prossegue à tarde com a continuação do interrogatório a Bruno
Jacinto.Bruno de Carvalho, que disse ser
atualmente comentador, Mustafá e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação
aos adeptos, estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça
agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de
38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como
terrorismo.Os três arguidos respondem
ainda por um crime de detenção de arma proibida agravado e Mustafá
também por um crime de tráfico de estupefacientes.Aos
arguidos que participaram diretamente no ataque à academia, o MP
imputa-lhes a coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de
ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro,
todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.