Bruno de Carvalho, o rosto de uma crise sem precedentes no Sporting
2018
17 de dez. de 2018, 10:51
— Lusa/AO Online
De
uma liderança incontestada ao afastamento pelos próprios sócios
bastaram seis meses. Bruno de Carvalho até começara o ano da melhor
forma possível, ao ver a equipa de futebol conquistar em janeiro a Taça
da Liga, numa altura em que os ‘leões’ alimentavam esperanças em todas
as provas. Porém, em 23 de junho, depois de uma espiral negativa
surpreendente, viu uma Assembleia Geral retirar-lhe o poder e a
presidência.Os
últimos seis meses distanciaram-no de Alvalade e aproximaram-no dos
tribunais. Foi constituído arguido no processo do ataque aos jogadores
da equipa principal de futebol, na Academia de Alcochete, em 15 de maio,
no qual é acusado de ser o autor moral de 40 crimes de ameaça agravada,
19 de ofensa à integridade física qualificada, 38 de sequestro, um de
detenção de arma proibida e crimes que são classificados como
terrorismo, não quantificados.A
erosão da relação entre Bruno de Carvalho e a equipa já durava há
alguns meses, tendo perdido também apoio entre os adeptos. No entanto,
foi a invasão em Alcochete e as agressões a jogadores e à equipa técnica
comandada por Jorge Jesus (por cerca de 40 membros da claque Juve Leo)
que colocaram um ponto final na ‘era’ daquele que ficou conhecido como o
‘presidente-adepto’.Em
fevereiro, impôs uma revisão de estatutos que apenas foi legitimada à
segunda tentativa e quando associada a uma votação sobre a continuidade
dos órgãos sociais, algo que conseguiu com uma percentagem inequívoca. A
confusão e as críticas a este processo geraram um enorme
descontentamento, mas o fim desta história ainda estava longe.A
derrota por 2-0 com o Atlético de Madrid, na primeira mão dos quartos
de final da Liga Europa, em 05 de abril, despertou a ira de Bruno de
Carvalho, que apontou publicamente falhas a vários jogadores. A tomada
de posição teve uma resposta inédita, com o plantel a acusar o
presidente de “falta de apoio”. Ato contínuo, o Sporting entrou numa
gravíssima crise desportiva, institucional e económica.Durante
semanas, o fosso entre o líder e o resto da estrutura agudizou-se. As
críticas a Bruno de Carvalho, provenientes dos mais diversos quadrantes,
ganharam espaço mediático e corroeram a aura de um presidente com
níveis de popularidade sem paralelo. A invasão em Alcochete, a qual
começou por relativizar, ao proferir que “o crime faz parte do dia a
dia”, tornou-se o ponto de ‘não retorno’.A
Mesa da Assembleia Geral (AG) e o Conselho Fiscal e Disciplinar
anunciaram as demissões dois dias após o ataque e deixaram Bruno de
Carvalho isolado. Iniciou-se então uma longa batalha com o líder da Mesa
da AG, Jaime Marta Soares, travada em sucessivos pedidos de AG, a
criação de comissões de um e do outro lado da barricada e uma série de
providências cautelares.Embora
imerso no ‘olho do furacão’, Bruno de Carvalho quis passar uma imagem
de normalidade, apresentando jogadores e até o treinador sérvio Sinisa
Mihajlovic para a nova época. Uma ilusão terminada pela Comissão de
Gestão entretanto nomeada por Jaime Marta Soares, presidida por Artur
Torres Pereira, e pela liderança de Sousa Cintra na SAD ‘leonina’.O
passo em frente foi uma recandidatura à presidência para as eleições de
08 de setembro, mas também essa intenção foi anulada pela Mesa da
Assembleia Geral, abrindo assim caminho a uma mudança de poder em
Alvalade. O sufrágio ditou a vitória de Frederico Varandas, antigo
diretor clínico e um dos primeiros a assumir o ‘divórcio’ público com
Bruno de Carvalho.Acossado
por notícias de alegadas irregularidades cometidas à frente do
Sporting, Bruno de Carvalho acabaria também por estar cinco dias detido
em novembro, no âmbito do processo do ataque em Alcochete, dias esses
que viria a considerar os “piores” da sua vida. Saiu em liberdade, após o
interrogatório, mas com a acusação num processo que promete também
marcar 2019.