Boris Johnson recua na “amnistia” a julgamentos sobre conflito na Irlanda do Norte
16 de mai. de 2022, 11:20
— Lusa/AO Online
Em julho
passado, Londres apresentou um plano controverso, denunciado por ambos
os lados como uma “amnistia”, que se aplicaria tanto às Forças Armadas
britânicas quanto aos paramilitares unionistas (protestantes) e
republicanos (católicos) acusados de crimes registados antes do acordo
de paz de 1998."Ouvimos muitas pessoas nos
últimos meses e refletimos sobre o que ouvimos", explica Johnson num
texto de opinião publicado hoje pelo jornal Belfast Telegraph, antes de
uma visita à província numa tentativa de desbloquear o impasse político
criado pelo ‘Brexit’ (processo de saída do Reino Unido da União
Europeia). "Lidar com o passado exigirá
sempre decisões difíceis, mas não haverá uma amnistia geral", garantiu o
governante, acrescentando: "A imunidade só será possível para aqueles
que cooperarem e os processos poderão ser avançados contra aqueles que
não cooperarem".A proposta de lei deve ser apresentada esta semana ao parlamento.O
acordo de paz concluído em 1998, também conhecido como Acordo de
Sexta-Feira Santa, pôs fim ao conflito entre unionistas, principalmente
protestantes e partidários da manutenção da província sob a coroa
britânica, e republicanos, principalmente católicos e militantes pela
reunificação da ilha, que fez 3.500 mortos.Quando
anunciou o plano inicial, o ministro britânico da Irlanda do Norte,
Brandon Lewis, reconheceu as dificuldades, mas argumentou que era "a
melhor solução para ajudar a Irlanda do Norte a avançar no caminho da
reconciliação".A questão esteve no centro
das comemorações do cinquentenário do Domingo Sangrento (Bloody Sunday),
quando 13 manifestantes católicos foram mortos por soldados britânicos,
em 30 de janeiro de 1972.Após um diálogo
com as famílias das vítimas, o primeiro-ministro irlandês, Michéal
Martin, o primeiro líder da República da Irlanda a assistir à cerimónia
anual, defendeu a continuação dos processos nos tribunais.Em
2019, o Ministério Público da Irlanda do Norte formalizou as acusações
contra o soldado F, assim designado para preservar o seu anonimato, por
duas das mortes registadas durante o Domingo Sangrento.Entretanto,
em julho passado, as autoridades judiciais anunciaram o abandono das
acusações, mas o Supremo Tribunal de Belfast anulou essa decisão.