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Bombeiros dos Açores sem reconhecimento de profissão de risco um ano após incêndio no HDES

Os bombeiros açorianos continuam sem reconhecimento de profissão de risco um ano após o incêndio no Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), que evidenciou a sua importância na sociedade, lamentou o presidente da corporação de Ponta Delgada.


Autor: Lusa

Segundo o presidente da direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada (AHBVPD), João Paulo Medeiros, o incêndio que atingiu o hospital daquela cidade da ilha de São Miguel, no dia 04 de maio de 2024, “acabou por chamar a atenção para os bombeiros” a nível regional e nacional.

A ocorrência também permitiu destacar a capacidade de profissionalismo, de abnegação, de entrega e de coragem dos “soldados da paz”.

O presidente da AHBVPD disse hoje à agência Lusa que nos primeiros dias e nas primeiras semanas a seguir ao incêndio no Hospital do Divino Espírito Santo (HDES) foram notórios os aplausos, o reconhecimento da população e as saudações, incluindo do próprio Governo Regional, que atribuiu uma Medalha de Mérito a cada um dos bombeiros envolvidos no combate às chamas, mas, passados 12 meses, “o essencial e o principal continua por fazer, que é reconhecer a carreira de bombeiro como uma profissão de risco”.

“Isto, infelizmente, continua por ser feito. Todos os políticos gostam de apertar as mãos aos bombeiros, gostam de aparecer nas fotografias com os bombeiros, gostam de saudar os bombeiros, mas daí até à prática, ano após ano, a verdade é que nós continuamos a lutar por isso e isso continua sem ser concretizado”, afirmou.

E prosseguiu: “Nem a profissão [de bombeiro] é reconhecida como uma profissão de risco, nem é atribuído um subsídio de risco aos bombeiros. E isto causa-me alguma tristeza”.

Nas declarações à Lusa, João Paulo Medeiros também destacou a capacidade de liderança do comandante da corporação de Ponta Delgada durante o combate às chamas no HDES, pois “quem estava cá fora, apenas via as bolas de fogo de todas as cores, enormes, a saltar por cima deles, e as explosões”.

Na sua opinião, os bombeiros aprenderam com o incêndio, porque uma situação desta natureza “nunca tinha ocorrido e não há memória em Portugal de uma evacuação de um hospital total, com mais de 300 doentes, em que não tenha acontecido qualquer ferimento, qualquer incidente, em que tenha corrido tudo bem”.

O dirigente da AHBVPD admitiu que a situação “poderia ter tido outro desfecho”, salientando que foi a coragem, o profissionalismo, a dedicação e o empenho dos bombeiros “que fizeram toda a diferença”.

Após o incêndio no HDES, o maior hospital do arquipélago, o corpo de bombeiros de Ponta Delgada recebeu, através do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores, um autotanque de combate a incêndios, que era “extremamente necessário”, e tem previsto receber este ano duas novas ambulâncias.

Segundo João Paulo Medeiros, a própria associação também está a investir cerca de 100 mil euros na compra de equipamentos de proteção individual, pelo “desgaste enorme” que se verificou no combate ao incêndio do HDES e nos 220 incêndios registados ao longo de 2024, um ano considerado “muito difícil” para a corporação.

A AHBVPD, que tem como área de atuação os concelhos de Ponta Delgada e de Lagoa, na ilha de São Miguel, possui um quadro ativo com cerca de 150 bombeiros, sendo 125 homens e 25 mulheres.

O incêndio que deflagrou no dia 04 de maio no HDES teve origem “em baterias de correção do fator de potência” e foi combatido durante cerca de sete horas pelos bombeiros, obrigando à transferência de todos os doentes internados para outras unidades de saúde, incluindo para fora da região.

Os prejuízos provocados pelo fogo estão estimados em mais de 24 milhões de euros.