Bolsonaro pode sofrer sanções políticas e jurídicas por relativizar pandemia
11 de abr. de 2020, 18:00
— LUSA/AO online
Em entrevista à agência Efe, o governador do
estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, ex-juiz e ex-fuzileiro naval,
sustentou que o chefe de Estado brasileiro, Jair Bolsonaro, pode ser
processado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) e pode estar sujeito a
um processo de destituição no Brasil se adotar as atitudes que defende
de “desprezo pela vida”.“O comportamento
de um chefe de Estado que não está em conformidade com as diretrizes da
Organização Mundial da Saúde [OMS] pode ter repercussões internacionais.
O Tratado de Roma inclui no seu artigo sobre crimes contra a humanidade
que causam sofrimento, causando danos à integridade física das
pessoas”, afirmou Witzel.“E já existe uma
queixa no Tribunal Penal Internacional [contra Bolsonaro] e isso pode
ser uma consequência de uma conduta que não segue as determinações da
OMS”, acrescentou.O chefe do governo
regional do Rio de Janeiro também mencionou que se Bolsonaro interferir
na administração dos estados brasileiros vai cometer um crime de
responsabilidade, hipótese que permitiria a abertura de um processo de
destituição.Para Witzel, Bolsonaro
“precisa de ter uma noção clara de que o que ele diz pode ter
repercussões políticas para ele e, eventualmente, caracterizar um crime
de responsabilidade”.O governador lembrou
que o Presidente brasileiro criticou reiteradamente o isolamento social,
mas não invalidou as restrições impostas por governantes locais,
portanto, “o que ele diz não está fazendo de maneira concreta”.Witzel
também disse que não é psicólogo para avaliar a saúde mental do chefe
de Estado brasileiro, mas lembrou que a sanidade de Bolsonaro teria que
ser avaliada num possível julgamento no âmbito de um processo de
destituição.“Não sou psiquiatra, não sou
psicólogo, e mesmo quando eu era juiz, para dizer se uma pessoa tinha a
condição de entender a natureza criminal do ato, eu precisava sujeitar
essa pessoa a uma avaliação por um profissional adequado. Portanto, não
posso avaliar se o Presidente tem problemas psiquiátricos ou não, porque
eu não sou o profissional qualificado para isso”, afirmou.“Mas
há quem defenda a necessidade de investigação psiquiátrica [em
Bolsonaro], como [o advogado] Miguel Reale Júnior [um dos autores do
processo destituição da ex-Presidente Dilma Rousseff]. Mas é necessário
que isso esteja dentro da estrutura de um processo”, completou o
governador ‘carioca’.Witzel mencionou que o
Presidente brasileiro tem-se oposto à posição assumida pela esmagadora
maioria dos países no combate à pandemia. “Todo
o mundo está defendendo medidas contra o vírus, com total isolamento da
sociedade até que uma vacina seja descoberta ou testes sejam
realizados, e ele não está fazendo isso. Ele, como chefe da nação,
precisa tomar essas medidas. Caso contrário, a responsabilidade política
será sua”, concluiu.Witzel e Bolsonaro
tem opiniões parecidas sobre uso da violência pelas forças do Estado
para conter a criminalidade e defendem posições promovidas pelos
movimentos conservador e evangélico do país. Ambos
foram aliados durante as eleições, mas a vontade do governador
‘carioca’ de disputar as presidenciais em 2022 estremeceu a relação e
hoje são considerados rivais entre candidatos identificados com a
direita na política brasileira.O Brasil
ultrapassou os mil mortos em decorrência do novo coronavírus,
contabilizando 1.056 óbitos e 19.638 infetados, informou o Ministério da
Saúde do país na sexta-feira.O novo
coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de
103 mil mortos e infetou mais de 1,7 milhões de pessoas em 193 países e
territórios.Dos casos de infeção, mais de 341 mil são considerados curados.Depois
de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o
que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação
de pandemia.