Bolsonaro, o ex-capitão do Exército que ganhou o Brasil para o conservadorismo
2018
17 de dez. de 2018, 10:53
— Lusa/AO Online
Classificado
de "mito" ou "herói" pelos seus apoiantes e de "perigo para a
democracia" por críticos e adversários, Bolsonaro, de 63 anos, eleito a
figura internacional do ano pelos jornalistas da Lusa, está na política
brasileira há 28 anos e antes de vencer as presidenciais em outubro
passado foi eleito deputado (membro da câmara baixa) sete vezes
consecutivas, sem nunca ter ocupado um cargo importante no Parlamento.Foi
eleito Presidente com o apoio de todos os que são hoje contra o Partido
dos Trabalhadores (PT), que ganhou as quatro eleições presidenciais
anteriores mas que se viu envolvido em escândalos de corrupção, à
semelhança de outros partidos tradicionais, quase todos investigados por
aquele que será o futuro ministro da Justiça de Bolsonaro, o juiz
Sérgio Moro. Capitão
do Exército reformado e defensor da ditadura militar - regime que
vigorou no Brasil entre 1964 e 1985 -, o futuro Presidente brasileiro,
que tomará posse em 01 de janeiro de 2019, iniciou a carreira política
como uma figura caricata de posições extremas e discursos agressivos em
defesa da autoridade do Estado e dos valores da família cristã.Ganhou
notoriedade nos últimos anos e transformou-se num líder capaz de
mobilizar milhares de eleitores desiludidos com a mais severa recessão
económica da história do Brasil, que eclodiu entre 2015 e 2016, ao mesmo
tempo que as lideranças políticas tradicionais do país foram apanhadas
em escândalos de corrupção.Sempre
se posicionou como um inimigo declarado das ideias defendidas por
partidos de esquerda, chegando a dizer publicamente em inúmeras
oportunidades que varrerá do país todos os comunistas.Bolsonaro
é favorável ao porte livre de armas e prega que o combate à violência
no Brasil, país que registou 63.800 homicídios em 2017, deve ser feito
de forma violenta pelas autoridades.Na
área de segurança pública mantém propostas polémicas, como a criação de
uma figura jurídica que impeça que homicídios cometidos por polícias em
serviço sejam julgados criminalmente.Embora
tenha baseado a sua carreira na defesa dos direitos dos funcionários
públicos, principalmente das polícias e das Forças Armadas, Bolsonaro
assumiu nesta campanha presidencial uma agenda liberal.Antes
mesmo de ser eleito Presidente, declarou que pretendia fazer uma ampla
reforma no sistema de pagamento de pensões, diminuir as leis de proteção
dos trabalhadores, reduzir a participação do Estado na economia e abrir
o país ao comércio mundial com projetos ambiciosos para atrair
investimento estrangeiro.Para
liderar estas políticas, Bolsonaro escolheu para ministro da Economia
Paulo Guedes, um economista que defende a privatização de empresas
públicas e a não interferência do Estado nos setores produtivos,
inspirado nos conceitos do liberalismo económico defendido na escola de
Chicago.Na
política externa, Bolsonaro insira-se no Presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, e escolheu como ministro das Relações Exteriores Ernesto
Araújo, um diplomata admirador do chefe de estado norte-americano, com
uma retórica agressiva contra a globalização.Embora
a sua posição ainda não seja clara, o próximo Presidente do Brasil já
disse discordar do Acordo de Paris para o Clima e do recém-aprovado
Pacto mundial para a Migração.O
futuro chefe de Estado é contra o aborto, contra políticas de
integração racial (como quotas para negros em universidades e órgãos
públicos) e ações voltadas para a proteção dos homossexuais e outras
minorias.Na
área do meio ambiente é favorável à diminuição da fiscalização de
crimes, tendo já prometido acabar com aquilo a que chama a "indústria
das multas" a que estão sujeitos aqueles que comentem infrações
ambientais no Brasil.Nas
eleições, Bolsonaro beneficiou da redução eleitoral dos grandes
partidos tradicionais e assentou uma política de alianças com novos
partidos de direita e deputados associados a igrejas evangélicas, ao
negócio das armas e ao setor da agropecuária.