Bolieiro exorta parlamento açoriano a contestar envio do regime de domínio público hídrico para TC
23 de mai. de 2024, 09:41
— Lusa/AO Online
“A
temática que agora se levantou a propósito de um pedido de fiscalização
sucessiva da constitucionalidade de normas deste parlamento, pedido
subscrito pelo antigo primeiro-ministro de Portugal, revela que o país, e
que alguns centralistas deste nosso país, continuam a achar que o nosso
ativo, o mar, que a nossa autonomia, a vontade de defender o que é
nosso, valorizar o nosso potencial num quadro nacional, comunitário e
mundial, continua a ser uma bandeira de defesa autonómica”, afirmou José
Manuel Bolieiro (PSD).O presidente do
Governo açoriano falava no parlamento regional, na Horta, no
segundo dia do debate sobre o Plano e Orçamento do Governo Regional
(PSD/CDS-PP/PPM) para 2024, onde o deputado do PAN, Pedro Neves, abordou
o assunto.“Eu hoje gostaria, instado a
fazer esta intervenção neste debate de orientações de médio prazo e de
Plano e Orçamento, exortar este parlamento que, sim, pode fazê-lo: Um
protesto e uma censura à iniciativa deste antigo primeiro-ministro
relativamente a este assunto, mas também a fazer prontamente o trabalho
que lhe deve”, afirmou.E prosseguiu: “A de
fazer a defesa da constitucionalidade destas normas legislativas,
preparar junto do Tribunal Constitucional a defesa desta nossa
prerrogativa e deste nosso objetivo”.“E se
ele não for suficiente no quadro do texto constitucional atual para
garantir este direito, essa prerrogativa ao povo insular que somos e à
Região Autónoma que somos, que se faça no quadro da revisão
constitucional a clarificação do normativo constitucional, que acabem
dúvidas sobre esta matéria”, admitiu.Bolieiro
disse ainda que, “infelizmente, para além desta atitude centralista no
pedido da fiscalização”, também não tem “boa nota na jurisprudência do
Tribunal Constitucional, que costuma sempre interpretar da forma mais
restritiva os poderes e as prerrogativas autonómicas”.“E,
portanto, não tenho certeza positiva quanto ao que pode ser a conclusão
deste processo. E já é tempo de afirmarmos esta vontade de, no quadro
constitucional, garantir os nossos direitos e as nossas prerrogativas
porque o ativo mar é dos Açores: tem influência e cria dimensão ao país e
à União Europeia. E nós não prescindimos dos nossos direitos e
prerrogativas”.A concluir, reafirmou a
exortação ao parlamento açoriano para que “faça a boa defesa da
constitucionalidade” das normas agora questionadas pela República.O deputado e líder do PS, Vasco Cordeiro, também se pronunciou sobre o assunto.Apesar
de ainda não ter tido oportunidade de ler o documento “com a devida
ponderação”, afirmou que “não restam dúvidas em relação àquilo que o PS
pensa sempre e acha”, uma vez que os decretos em causa foram aprovados
pelo último Governo Regional do PS, ao qual presidiu."Isso
diz tudo, julgo eu, sobre a discordância que há, profunda, clara,
inequívoca, entre aquilo que o Governo Regional dos Açores do PS pensa e
acha sobre essa matéria e aquilo que, aparentemente, o antigo
primeiro-ministro entende sobre este assunto”, disse.“Neste
assunto, não estamos seguramente de acordo com o Dr. António Costa,
como não estivemos noutros assuntos”, assumiu Vasco Cordeiro.E
rematou: "Se outras razões não existissem, o facto de ser sobre
decretos aprovados pelos Governos Regionais do PS [que governou a região
entre 1996 e 2020] e por uma Assembleia Legislativa na qual o PS tinha a
maioria, diz tudo quanto à diferença de entendimento e à discordância
profunda com esse pedido de declaração de inconstitucionalidade”.O
deputado e líder social-democrata Bruto da Costa salientou o facto de
António Costa ter “esperado pelas 20h33 do último dia de funções para
enviar para o Tribunal Constitucional um pedido de inconstitucionalidade
de normas regionais”.“Ou é à socapa, ou é
para tentar (…) induzir em erro as pessoas, pensarem que tinha sido
outro [primeiro-ministro] a fazer esta brincadeira”, disse, lamentando
que “qualquer primeiro-ministro, que no último dia de funções, já pela
noite dentro, se dá ao trabalho de ter uma atitude destas contra a
Região Autónoma dos Açores e contra os açorianos”.Na
missiva dirigida ao presidente do TC, a que a agência Lusa teve
acesso, o anterior chefe do governo alega que os decretos legislativos
regionais são inconstitucionais por “violação de reserva de lei
parlamentar” e porque estão em causa “bens dominais do Estado”.