Bolieiro espera que proposta da República para atividades espaciais seja "um nado-morto"
15 de dez. de 2021, 15:54
— Lusa/AO Online
O líder do
executivo de coligação PSD/CDS-PP/PPM, José Manuel Bolieiro, falava no
parlamento açoriano, na Horta, após uma declaração política do CDS-PP a
criticar o projeto de decreto-lei que altera o regime jurídico das
atividades espaciais e que também o PS alertou ser violador da
Constituição da República.A agência Lusa
noticiou que, numa comunicação do gabinete do presidente do Governo
dos Açores, dirigida ao gabinete do secretário de Estado da Presidência
do Conselho de Ministros, o executivo regional alerta que o projeto de
decreto-lei “não garante o cumprimento" do Estatuto
Político-Administrativo e, consequentemente, "da Constituição da
República Portuguesa”.Um dos argumentos da
presidência do Governo Regional prende-se com o facto de o projeto de
diploma do Governo da República prever uma consulta “não vinculativa” à
região em matérias espaciais.Acresce que
os Açores têm legislação própria produzida sobre essa matéria e, de
acordo a Constituição e o Estatuto Político-Administrativo da região, é
essa que deve prevalecer perante a legislação “continental”, como lhe
chamou José Manuel Bolieiro.“São os
atos legislativos das regiões que prevalecem. É no regime do direito
supletivo que pode intervir qualquer iniciativa continental. Este é o
quadro argumentativo de que não abdicaremos”, explicou o líder do
executivo no parlamento.Bolieiro
manifestou a intenção de “transformar esta tentativa” do Governo da
República “num nado-morto e aproveitar oportunidade para refletir sobre
aprofundamento da autonomia”.O
social-democrata defendeu que, “no quadro de uma futura revisão da
Constituição República, devia prevalecer a reserva de soberania”. “Os
centralistas evitaram esta possibilidade. O que é preciso é que
possamos insistir no desafio de se trabalhar por uma lista de reserva de
soberania”, sustentou.Para Bolieiro,
“qualquer avaliação de iniciativas de cariz maniqueísta não pode senão
merecer o protesto e a censura política, em primeiro lugar, e, depois, o
respetivo argumentário jurídico”.O chefe
do Governo Regional respondia, assim, à intervenção do seu antecessor na
liderança do executivo, o socialista Vasco Cordeiro.O
agora deputado alertou que, “para o PS, a questão que se deve colocar
no momento, antes da argumentação política, é a inconstitucionalidade
flagrante da proposta de decreto-lei”.De
acordo com Vasco Cordeiro, a proposta da República “viola o artigo 228,
n.º 2, da Constituição, que dispõe que, na falta de legislação regional
própria, se aplicam nas regiões autónomas as normas legais em vigor”. “Ou seja, sempre que houver legislação regional, não se aplica a legislação nacional”, avisou. O
debate começou com uma declaração política do deputado Pedro Pinto, do
CDS-PP, a lembrar que o Governo da República já tinha produzido um
decreto sobre questões espaciais, em 2019, tendo depois o Governo
Regional aprovado regulamentação sobre a matéria.“Trata-se
de uma alteração cirúrgica que faz desaparecer o enquadramento jurídico
regional para a legislação regional”, lamentou.Para
o deputado do CDS-PP, o primeiro-ministro, António Costa, “não quer que
as atividades espaciais se desenvolvam nos Açores sem o controlo
centralista do Governo da República”.Com a
alteração proposta, acusou, as regiões autónomas “passam de uma
situação com competência para regulamentar nos seus territórios para uma
situação em que apenas são consultadas”.João
Bruto da Costa, que já antes tinha feito uma declaração política contra
o centralismo do Governo da República, defendeu que o parlamento
açoriano deve ter uma postura “de crítica, sem medo, perante o sacudir
de responsabilidades por parte do Governo, não respeitando os poderes e a
autonomia dos Açores”.“Esta assembleia tem de estar frontalmente contra esta postura de desrespeito da autonomia”, frisou.António Lima, do BE, considerou a proposta “absolutamente inaceitável” por constituir um “ataque intolerável à autonomia”. O
deputado explicou que o BE apresentou uma proposta, para ser votada
ainda durante o presente plenário regional, para que a Assembleia
Legislativa dos Açores tome posição sobre o assunto.“O
que leva um Governo a tentar apagar do enquadramento jurídico nacional
toda e qualquer competência regional sobre este assunto? Que interesses
estão em causa, quando um Governo toma uma decisão destas com a
Assembleia da República dissolvida? O que leva a que se ataque desta
forma uma autonomia constitucional? Que interesses económicos e
militares estão aqui em causa?”, questionou.Na
legislação em vigor, consultada pela Lusa, “os procedimentos de
licenciamento das atividades espaciais, de qualificação prévia e de
registo e transferência de objetos espaciais relativos a atividades a
desenvolver nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, bem como o
respetivo regime económico e financeiro, são definidos por decreto
legislativo regional”.A alteração
proposta, que mereceu parecer desfavorável do Governo Regional açoriano,
prevê que “o licenciamento das atividades espaciais que sejam
desenvolvidas a partir das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira”
seja “objeto de consulta ao respetivo Governo Regional”.