Autor: Lusa/Ao online
“O combate à violência passa também pelo combate aos preconceitos, ao racismo, à xenofobia e nós sabemos que Portugal tem um problema de racismo institucional, é um problema estrutural, é um problema que não é só o Bloco que o afirma”, referiu Sandra Cunha.
A deputada falava aos jornalistas em frente à Câmara do Seixal, onde decorria uma manifestação de apoio aos moradores do bairro da Jamaica, contra as alegadas agressões, racismo policial e por habitações dignas.
Para Sandra Cunha, deveria haver “uma maior aposta” na educação e formação das forças policiais.
“O relatório da equipa contra o racismo e insegurança da Comissão Europeia, que saiu no ano passado, refere precisamente e faz recomendações nesse sentido porque há focos de violência, racismo e discriminação nas forças policiais. O papel das forças policiais é absolutamente crucial para garantir a segurança da população, valorizamos o trabalho dos elementos e consideramos que a sua imagem não pode ser manchada pelo comportamento de alguns”, frisou.
Quando questionada sobre as críticas de que o Bloco de Esquerda tem sido alvo, a deputada garantiu que o partido apenas está a defender o fim da violência.
“Não é um aproveitamento quando faz parte daquilo que o Bloco de Esquerda sempre fez, estar contra o racismo, contra a discriminação, que é alias aquilo que todas as pessoas, e ainda mais com responsabilidades políticas, se deviam manifestar por uma sociedade igualitária e sem violência. Estamos aqui a mostrar que esta gente não é violenta”, frisou.
A manifestação começou por volta das 16:30 e terminou pelas 18:30, e ficou caracterizada exatamente por ser um movimento pacífico, mas com a presença de poucos moradores do bairro da Jamaica.
“As pessoas são livres de participar e apoiar aquilo que entenderem. O Bloco de Esquerda sempre esteve do lado da igualdade, do respeito, da luta contra o respeito, a discriminação, contra a violência e é por isso que estamos aqui também para prestar esse apoio e para dizer que estamos numa manifestação física, como se pode ver, e que exige aquilo que são valores fundamentais da nossa democracia, que são a igualdade, a liberdade, a não violência, o não ao racismo e combate à descriminação”, mencionou.
Sandra Cunha alertou também para a realidade económica e habitacional dos moradores de Vale de Chícharos.
“O bairro da Jamaica tem graves carências económicas, vive em condições de habitabilidade desumanas e o Bloco de Esquerda conseguiu na Assembleia da República que o processo de realojamento fosse feito com os moradores. Esse é um grande passo e esperemos que o processo decorra com toda a tranquilidade e não seja manchado com estes incidentes”, afirmou.
Quando questionada sobre o porquê de uma manifestação à porta da câmara municipal, que está a financiar a maior parte dos realojamentos em Vale de Chícharos, a deputada esclareceu que essa decisão “não foi da autoria do Bloco”.
“Só estamos aqui a apoiar no local onde as pessoas escolheram para isso. A camara é um órgão do poder local e presumo que seja por isso a escolha, por ser um órgão político que também tem responsabilidades nessa matéria, especialmente nas questões do realojamento”, explicou.
O protesto acontece na sequência de incidentes entre moradores e a polícia ocorridos no passado domingo em Vale de Chícharos, conhecido como Bairro da Jamaica, no Seixal, distrito de Lisboa, e contou com apenas uma minoria de habitantes deste bairro.
No domingo passado, a polícia foi chamada a Vale de Chícharos após ter sido alertada para “uma desordem entre duas mulheres”.
Segundo a PSP, um grupo de homens reagiu à intervenção dos agentes da polícia quando estes chegaram ao local, atirando pedras. Do incidente resultaram feridos, sem gravidade, cinco civis e um agente.
Na segunda-feira decorreu uma manifestação contra a violência policial, convocada nas redes sociais, em frente ao Ministério da Administração Interna, em Lisboa, que resultou em quatro detenções por apedrejamento aos agentes da PSP, de acordo com a polícia.
Nos dias seguintes aos protestos ocorreram diversos atos de vandalismo, como caixotes de lixo queimados e carros vandalizados, nos concelhos de Loures, Sintra, Odivelas e Setúbal.
O Ministério Público e a PSP abriram inquéritos aos incidentes no bairro da Jamaica.