Bispos portugueses criam comissão para investigar abusos sexuais na Igreja
11 de nov. de 2021, 17:30
— Lusa/AO Online
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP)
refere na decisão que esta comissão, que irá integrar um conjunto de
pessoas leigas e "algumas não católicas", irá "reforçar e alargar o
atendimento dos casos [de abusos sexuais] e o respetivo acompanhamento a
nível civil e canónico e fazer o estudo em ordem ao apuramento
histórico desta grave questão”.O
presidente da CEP, José Ornelas, disse no final da reunião que os bispos
não receiam a investigação sobre abusos sexuais na Igreja.“Temos
muita pena e custa-nos muito tratar estas coisas [abusos sexuais], como
qualquer família que tratasse de um problema destes, mas não temos medo
e temos todo o interesse em esclarecer tudo isto”, afirmou José Ornelas
na conferência, após o encerramento da Assembleia Plenária".Segundo
a CEP, a "Igreja [católica] continua a enfrentar esta questão com
seriedade, quer quanto ao apoio e acolhimento das vítimas, quer quanto à
prevenção e formação” e reconhece o “trabalho das comissões diocesanas,
constituídas especialmente por leigos qualificados em várias áreas como
o Direito, a Psiquiatria e a Psicologia”.José
Ornelas afirmou que o importante desta comissão é a “acentuação que se
pôs na capacidade de liberdade, de pensamento e de ação destas comissões
na busca intransigente” pela “clareza” nesta questão.“Constituir
uma equipa a nível nacional reforça isto que já estava nas comissões
diocesanas e pretende ser uma ulterior instância de oferecer
possibilidade de compreensão global deste fenómeno”, salientou o bispo
de Setúbal.Segundo José Ornelas, a CEP
“não irá de modo nenhum condicionar de forma negativa o trabalho desta
comissão, bem pelo contrário”. “Queremos que esta comissão chegue ao
fundo das questões e que questione, seja a igreja seja a sociedade, com
os verdadeiros temas: primeiro de clareza, segundo de honestidade”, indo
“ao encontro dos dramas que isto significa e também de dar contas para
que se tenha a dimensão clara desta situação”.Sem
divulgar os nomes que foram discutidos na Assembleia Plenária para
constituírem a comissão nacional, o presidente da CEP também referiu não
ter ainda uma data para a criação da comissão. “Será o mais rapidamente
possível. Não queremos que isso fique para as calendas, mas queremos
dar o espaço suficiente para não nos precipitarmos com soluções parciais
e apressadas”, disse José Ornelas.O
presidente da CEP também defendeu que não deve ser estabelecido um
horizonte temporal para a investigação dos eventuais casos de abusos
sexuais a menores ou adultos vulneráveis. “Não vamos fechar a torneira
desde que tenhamos o depósito cheio. Não vai haver a exclusão de ninguém
que queira denunciar o que quer que seja”, sublinhou.“O
objetivo fundamental está claro: clarificar esta situação dos abusos
sexuais na igreja em Portugal. A metodologia seguida tem de ser
combinada na própria comissão”, explicou o bispo, que reconheceu que lhe
têm chegado casos não só à sua diocese como a outras.Segundo revelou, “os casos são encaminhados de acordo com aquilo que as próprias pessoas pedem”.Questionado
sobre se a Igreja estará disponível dar à comissão acesso aos arquivos,
José Ornelas respondeu: “Tudo faremos para esclarecer cabalmente esta
questão. O que for necessário fazer, faremos.”