Bispos comprometem-se com proteção das vítimas de abusos
14 de mar. de 2023, 18:51
— Lusa
“O
caminho que a Igreja em Portugal está a percorrer, seguindo os passos
de um processo que o Papa Francisco indicou para toda a Igreja e que tem
por objetivo essencial proteger as vítimas e garantir a segurança e
confiança nos ambientes da Igreja Católica, abre portas à esperança e ao
compromisso para que comportamentos e atitudes do passado não se voltem
a repetir”, refere o comunicado do Conselho Permanente da CEP.A Igreja católica suspendeu até ao momento cinco padres e um leigo suspeitos de abusos sexuais de menores.A
posição da Igreja Católica em relação à questão dos abusos sexuais de
menores tem vindo a evoluir e o presidente da Conferência Episcopal
Portuguesa (CEP) já admitiu que a instituição possa indemnizar as
vítimas.Numa entrevista divulgada na
segunda-feira pelo jornal espanhol El País, o bispo José Ornelas disse
que o pagamento de indemnizações pela Igreja "não está contemplado nem
está excluído" e defendeu que sejam “uma coisa personalizada”, embora
sublinhasse ter “dificuldade em pôr um preço ao sofrimento".A
03 de março, após a CEP ter analisado o relatório final da Comissão
Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Menores na Igreja em
Portugal, José Ornelas havia remetido eventuais indemnizações às vítimas
para os seus autores, indiciando que não haveria lugar a indemnizações
por parte da instituição.A diocese de
Leiria-Fátima, liderada por José Ornelas, juntou-se no sábado às que já
informaram ter recebido da Comissão Independente uma lista de suspeitos
de abuso. Neste caso, tratava-se de cinco nomes, um dos quais, leigo,
foi entretanto dispensado de funções, por precaução. Além deste, a
diocese está a tentar determinar a identidade de um outro leigo,
admitindo que se possa tratar “de uma pessoa já falecida”, o que
acontece em relação aos três padres que integravam a lista.O
presidente da CEP declarou no domingo discordar da opinião do
Presidente da República, que se manifestou desiludido com a resposta da
Igreja ao relatório da Comissão Independente.Marcelo
Rebelo de Sousa, que defendeu uma reparação das vítimas, afirmou que a
posição da Conferência Episcopal "foi uma desilusão”, considerando que
foi tardia e "ficou aquém em todos os pontos que eram importantes". “Toda
a gente tem direito de se iludir ou desiludir. Eu respeito muito o
Presidente da República, respeito muito a opinião dele. Não concordo,
mas respeito”, reagiu José Ornelas.O bispo
da diocese de Leiria-Fátima garantiu que a Igreja está a assumir as
suas responsabilidades neste processo e que não pretende “encobrir
nada”, salientando que uma pessoa suspeita, “com identificação clara e
sem que isso signifique já uma condenação, deve ser retirada do serviço
que faz”, mas que é necessário “algum dado com solidez” para não se
fazer uma “caça às bruxas”.Até ao momento,
das 21 dioceses no país, as do Funchal, Angra, Évora, Viana do Castelo,
Algarve, Portalegre, Viseu, Guarda, Braga, Lisboa, Porto, Aveiro,
Santarém, Setúbal, Leiria-Fátima, Bragança-Miranda e Vila Real já se
pronunciaram sobre as listas de nomes que lhe foram enviadas.A
Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as
Crianças na Igreja Católica Portuguesa, constituída por decisão da CEP e
coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, validou 512 testemunhos,
apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas.Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.A comissão entregou uma lista de alegados abusadores no ativo à Conferência Episcopal Portuguesa.No
relatório, divulgado em fevereiro, a comissão alertou que os dados
recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos
sexuais devem ser entendidos como a "ponta do iceberg".