Bispo José Ornelas discorda do PR sobre a resposta da Igreja ao relatório dos abusos sexuais
12 de mar. de 2023, 21:04
— Lusa /AO Online
“Toda a gente tem direito de se iludir ou desiludir. Eu respeito muito o Presidente da República, respeito muito a opinião dele. Não concordo, mas respeito”, afirmou à RTP o bispo José Ornelas.Na quinta-feira, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, declarou-se desiludido com a resposta da CEP ao relatório sobre abusos sexuais de menores na Igreja Católica Portuguesa e defendeu uma reparação das vítimas.Em entrevista à RTP e ao Público, previamente gravada no Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que "foi uma desilusão a posição da Conferência Episcopal", considerando que foi tardia e "ficou aquém em todos os pontos que eram importantes".Em declarações hoje ao canal público, José Ornelas, que também lidera da diocese de Leiria-Fátima, garantiu que a Igreja está a assumir as suas responsabilidades neste processo.“Se alguém ler com a atenção o comunicado que a gente fez, que significa um traçar de rumos, que é aquilo que era preciso na primeira reunião, dizer que a Igreja não assume responsabilidades, não. Está lá escrito claramente e é isso que estamos a fazer”, assegurou o presidente da CEP.A Igreja não pretende “encobrir nada”, disse ainda o bispo, ao salientar que, no caso de uma pessoa suspeita, “com identificação clara e sem que isso signifique já uma condenação, deve ser retirada do serviço que se faz”.“Para identificar as pessoas e para identificar aquilo que são suspeitas, é preciso ter algum dado com solidez, se não vamos fazer caça às bruxas”, alertou.Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, a estrutura que reúne os bispos das dioceses em Portugal ficou desde logo "aquém no tempo", pela demora em reagir publicamente ao relatório final da comissão independente."Ficou aquém ao não assumir a responsabilidade – para mim é o mais grave", prosseguiu o Presidente da República. "Como é que não responde a Igreja Católica por atos praticados por quem que, além de invocar o múnus da fé, é representante de uma Igreja, certificado, legitimidade, mandatado para a sua missão pastoral? Como? É incompreensível", considerou.A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, constituída por decisão da Conferência Episcopal Portuguesa e coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas.Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.A comissão entregou uma lista de alegados abusadores no ativo à Conferência Episcopal Portuguesa.No relatório, divulgado em fevereiro, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais devem ser entendidos como a "ponta do iceberg".