Biólogo americano considera respostas de missão da OMS "difíceis de engolir"

Covid-19

7 de mar. de 2021, 10:46 — Lusa /AO Online

Bret Weinstein, especialista em morcegos, biologia evolutiva e atualmente professor convidado na universidade norte-americana de Princeton, é um dos cientistas que defendem que deveria ter sido investigada desde o início da pandemia a possibilidade de ter tido origem num acidente laboratorial, exigência que ganha agora força nos meios académicos.Falando sobre a missão, Weinstein aponta o que considera uma falha essencial: “A equipa da OMS disse especificamente que não estava mandatada para investigar no laboratório [do Instituto de Virologia de Wuhan] e que não estava equipada para o fazer”.No Instituto de Virologia de Wuhan, cidade do centro da China onde foram detetados os primeiros casos de infeção, realiza-se um tipo de investigação designado por “ganho de função”, em que se aceleram capacidades de vírus recolhidos na natureza, aumentando a sua capacidade de se transferir entre espécies ou de contagiar mais facilmente.Uma carta aberta subscrita por 24 cientistas internacionais divulgada na passada quinta-feira aponta como “essencial que todas as hipóteses sobre as origens da pandemia sejam examinadas e haja acesso total a todos os recursos sem olhar a sensibilidades políticas ou outras”.Uma das hipóteses que defendem, a mesma que Weinstein e outros cientistas sustentam há vários meses que seja considerada é, na expressão usada na carta aberta, “um acidente relacionado com investigação” científica.Essa hipótese foi descartada pela missão da OMS – constituída por especialistas de 10 países, incluindo EUA, Reino Unido, Alemanha e Rússia - numa conferência de imprensa em Wuhan, em fevereiro.Contudo, o diretor-geral da OMS viria a retificar a situação, afirmando que "todas as hipóteses permaneciam em cima da mesa" para explicar a origem da pandemia, e anunciou que o relatório final seria divulgado em 15 de março.Em vez disso, propuseram uma hipótese que Pequim também avançou, a de o vírus poder ter chegado a Wuhan em carne congelada de furões-texugo (animais próximos das doninhas que são criados e caçados para comer) oriunda da China ou noutro país asiático.“Essa história é difícil de engolir, porque se há algo que podemos dizer é que não temos provas de transmissão de carne congelada a seres humanos”, sublinhou Bret Weinstein.Segundo o biólogo, este vírus parece, sim, excelente a transmitir-se através de gotículas e partículas em aerossol.“Portanto, esta história é, no mínimo, uma hipótese que precisa de provas e, no pior dos cenários, uma distração para nos impedir de investigar a possibilidade óbvia de este vírus estar em Wuhan porque estava presente no Instituto de Virologia”, argumenta.Bret Weinstein salienta que “se a pandemia foi desencadeada por uma fuga laboratorial, parece evidente que se tratou de um erro honesto, um erro grave, mas que resultou de pessoas honradas a tentarem fazer um trabalho que acreditavam ser necessário”.“Acho que nesta altura, este trabalho [em ganho de função] não devia estar a ser feito. É demasiado perigoso e é muito mais provável que desencadeemos uma pandemia do que a evitemos”, considera.“Neste caso, a probabilidade é que o vírus tenha sido melhorado para conseguir infetar melhor tecidos humanos e transmitir-se entre indivíduos para poder ser um modelo de epidemia zoonótica”, admite.