Biden aterra na Europa para galvanizar aliados e reforçar aliança transatlântica
9 de jun. de 2021, 12:25
— Lusa/AO Online
"A
política externa não tem sido uma prioridade da administração, mas
Biden é sincero neste desejo de renovar e reforçar a aliança
transatlântica", disse à agência Lusa a cientista política
luso-americana Daniela Melo, que leciona na Universidade de Boston. "Para
Biden, esta é a primeira oportunidade em termos de política externa de
passar das palavras à ação, no que diz respeito à governança global",
considerou a especialista, destacando as questões da vacinação contra a
covid-19, as alterações climáticas, o comércio internacional e a própria
democracia.No ‘briefing’ da Casa Branca
que antecedeu o início da visita, o conselheiro de Segurança Nacional,
Jake Sullivan, explicou quais os objetivos da administração com a agenda
de oito dias que terá várias paragens cruciais. "Esta
viagem, no seu âmago, irá avançar o impulso fundamental da política
externa de Joe Biden: galvanizar as democracias do mundo para
enfrentarem os grandes desafios do nosso tempo", disse Sullivan. Da
agenda consta a primeira cimeira entre os Estados Unidos da América e a
União Europeia desde 2014, na qual serão endereçados tópicos quentes
como as tarifas comerciais impostas pelo ex-Presidente Donald Trump, as
disputas referentes aos subsídios às companhias aeronáuticas Boeing e
Airbus e ainda a regulação das empresas tecnológicas. "Na
cimeira EUA-UE, o Presidente e os líderes da União Europeia vão
focar-se no alinhamento das nossas abordagens aos acordos comerciais e à
tecnologia", descreveu Sullivan, "de modo a que sejam as democracias e
mais ninguém, nem a China nem outros regimes autocráticos, a escreverem
as regras para o comércio e a tecnologia no século XXI". Com
a participação no encontro do G7 (sete economias mais desenvolvidas do
mundo), em Cornwall, a administração Biden tem como objetivos o apoio ao
IRC mínimo de 15%, na sequência da reunião dos ministros das Finanças
do G7, e a assunção de compromissos para o clima, padrões laborais,
anticorrupção e ciberataques do tipo ‘ransomware’, que têm abalado
grandes companhias nos últimos meses. "É a
oportunidade de começarmos a perguntar o que é que o G7 vai fazer para
travar o retrocesso da democracia a nível mundial, para assegurar o
acesso à vacinação em países menos desenvolvidos e para responsabilizar
as empresas que fogem aos impostos através de paraísos fiscais",
sublinhou Daniela Melo. Segundo disse Jake
Sullivan no ‘briefing’, uma das coisas que a Casa Branca quer ver sair
do G7 é "o início de um plano de ação que cubra uma série de áreas
críticas", sendo necessário reforçar as defesas coletivas contra os
ataques de ‘ransomware’, resolver como partilhar informações sobre as
ameaças entre os regimes democráticos e como lidar com o desafio das
criptomoedas relacionado com os ciberataques. O
conselheiro disse ainda que os Estados Unidos querem que o mundo fale a
uma só voz contra os países, "incluindo a Rússia", que albergam
cibercriminosos ou permitem que eles operem a partir dos seus
territórios. Biden terá a oportunidade de
dizer isso pessoalmente ao Presidente russo Vladimir Putin, quando os
dois líderes se encontrarem no final da viagem, em Genebra, já depois de
um encontro com o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. "Estamos
aqui a ver um novo momento de redefinição da relação entre a Rússia e
os Estados Unidos", afirmou Daniela Melo, considerando que o encontro
entre Biden e Putin será o momento mais mediático da visita. "Os
americanos esperam ver um Biden forte, coerente, calmo, mas que insista
nas questões prioritárias para a segurança externa dos Estados Unidos,
desde os ciberataques à interferência nas eleições, [oposicionista
russo] Alexei Navalny e interferência na Ucrânia", disse a cientista
política. No entendimento da Casa Branca,
Jake Sullivan disse que Biden parte para a viagem numa "posição de
força", fundamentada no progresso dos Estados Unidos na luta contra a
pandemia, o crescimento projetado que irá contribuir para a recuperação
económica mundial e "um poder e um propósito Americanos renovados". Num
artigo de opinião publicado no Washington Post a 05 de junho, o
Presidente já tinha escrito que esta viagem tem como objetivo "realizar o
compromisso renovado da América" para com os seus aliados e parceiros,
num momento de incerteza e pandemia, "e demonstrar a capacidade das
democracias de estarem à altura dos desafios e deter as ameaças da nova
era". Além de reuniões com aliados da
NATO, as primeiras desde 2018, Joe Biden irá também reunir-se com o
primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e visitará a Rainha de
Inglaterra, Isabel II. Do ponto de vista
dos meios de comunicação e analistas norte-americanos, a viagem será
ensombrada pelas questões domésticas mais bicudas que têm ocupado a
jovem presidência de Joe Biden. Na linha da frente está a negociação,
até agora falhada, para aprovar um pacote económico de 2 biliões de
dólares (1,6 biliões de euros), virado para a modernização da
infraestrutura do país e criação de emprego. As
"dores de cabeça" internas do Presidente, como lhes chamou o Washington
Post, incluem ainda o abrandamento do ritmo de vacinação dos cidadãos
norte-americanos e a redução titubeante da taxa de desemprego, conforme
ilustrado no relatório mensal sobre o emprego publicado a 04 de junho.