Biblioteca de Angra comemora os 75 anos de Álamo de Oliveira
21 de jul. de 2020, 09:00
— Cátia Carvalho/AO Online
O
roteiro biobibliográfico que comemora os 75 anos do percurso de vida
de Álamo de Oliveira, programado inicialmente para o mês de maio e
adiado posteriormente para julho devido à pandemia “resgata o que
de melhor os Açores produziram continuamente, sem pousio” escreveu
Cláudia Cardoso, diretora da BPARLSR, no catálogo da exposição.
O
autor terceirense que “agrega uma multiplicidade de talentos rara
de encontrar” nasceu em 1945 na freguesia do Raminho e é autor de
34 títulos publicados, entre poesia, romance, conto, teatro e
ensaio.
Considerado
um “exímio executante da palavra”, a vida e obra de Álamo de
Oliveira não podem ser dissociadas nem do Seminário de Angra, onde
se formou, nem da Guiné-Bissau onde cumpriu o serviço militar. O
autor foi também fundador do grupo de teatro “Alpendre” e
coordenou dois suplementos: ‘Quarto Crescente’ no jornal A União
e ‘Vento Norte’ no Insular.
Cláudio
Cardoso sublinhou, no texto que escreveu a respeito da exposição,
que “a biblioteca pública não poderia deixar de estar associada a
esta celebração” e que “Álamo de Oliveira é uma figura ímpar
da cultura açoriana, a quem todos devemos muito. Mesmo quem não o
suspeite, sequer. Mesmo quem não desconfie que, nas páginas de ‘Já
não gosto de chocolates’ mora a história de grande parte dos que
partiram na vaga imensa de emigração açoriana. Ou mesmo quem não
saiba que ‘Até hoje. Memórias de cão’ resgata as vivências da
guerra colonial com que uma geração de açorianos foi obrigada a
lidar”.
Numa
entrevista concedida à Azores TV, Álamo de Oliveira contou que na
altura em que começou a escrever “o menos que faltava era gente a
escrever a favor do sistema. Portanto, o que interessava era criar
alguma oposição em termos de escrita que pusesse as pessoas a
refletirem um bocadinho sobre a sua real situação política e
social. Se não fosse essa utilidade política e social da escrita,
nesse tempo, acho que não valeria a pena escrever”, acrescentando
que “tive muito gosto em pertencer a essa geração de gente que
foi capaz de enfrentar um pouco a força e o poder”.O
autor revelou ainda que a emigração foi um dos temas que mais o
traumatizou, “a minha família foi toda para fora, numa casa de 7
pessoas de repente éramos 3, o resto foi-se tudo embora e mesmo
assim as que ficaram, ficaram por pouco tempo” assumindo que “a
emigração foi sempre de facto um problema, foi sempre uma luta
muita grande, aliás, toda a minha escrita, no princípio reflete
isso, reflete mais isso do que outra coisa qualquer. As minhas peças
de teatro a mesma coisa. A emigração foi sempre essa espécie de
pesadelo que me perturbou”.
Para
Álamo de Oliveira “foi muito importante ver depois como é que
eles se foram realizando nessas terras estranhas, como é que gente
que mal sabia ler e escrever e não dizia uma palavra em inglês
chega aquelas terra e dali a menos de um ano está a desenrascar-se
perfeitamente. Lá pelo menos conseguem uma coisa fantástica que é
chegar a casa, abrir o frigorífico e terem tudo quanto precisam para
se alimentarem, uma coisa que aqui às vezes não havia e digo isto a
começar pela minha casa”.Na
mesma entrevista, Cláudia Cardoso destacou o facto da exposição
ter o próprio autor como curador, “normalmente as exposições que
se fazem não são sobre pessoas que estão entre nós e isto limita,
de certa forma passa a ser a interpretação de quem estuda e de quem
recolhe o material. Neste caso, nós tivemos a grande ajuda do
próprio escritor e, portanto, ele foi ao mesmo tempo o homenageado e
o curador da sua exposição e assim foi possível ter acesso a
inéditos não publicados do autor e a outras curiosidades que de
outra forma não teríamos se apenas tivéssemos acesso ao espólio”.
A
exposição, inaugurada em formato vídeo, encontra-se disponível
fisicamente até ao próximo dia 5 de novembro e online nos suportes
de comunicação da BPARLSR.
A
acompanhar as comemorações dos 75 anos do autor terceirense está
um programa de atividades que engloba um recital de poesia e vários
painéis de debate que versam a produção literária de Álamo de
Oliveira e que contam com a presença de diversos convidados.