Berlim a favor de tribunal especial para julgar crimes de guerra na Ucrânia
16 de jan. de 2023, 19:14
— Lusa
Num discurso
proferido em Haia, Annalena Baerbock apelou para um “novo formato” de
tribunal para “julgar os dirigentes russos”, utilizando eventualmente o
direito ucraniano, mas instalado no estrangeiro, com juízes
internacionais.O Tribunal Penal
Internacional (TPI) está a investigar presumíveis crimes de guerra e
crimes contra a humanidade cometidos na Ucrânia, tendo o seu procurador
descrito o país como “um cenário de crime”.Mas
o TPI não é competente para julgar os “crimes de agressão” da Rússia,
porque Moscovo não é signatário do tratado de Roma fundador do tribunal,
pelo que não está vinculado pela sua jurisdição.Desde
o início da invasão, em fevereiro do ano passado, multiplicaram-se os
apelos para a criação de um tribunal que possa perseguir judicialmente
os crimes de agressão da Rússia contra a Ucrânia.“A
nossa ideia, juntamente com alguns parceiros é (…) que um tribunal
pudesse obter a sua competência do direito penal ucraniano”, declarou
Baerbock, falando na Academia de Direito Internacional.“É
importante para nós haver uma componente internacional, por exemplo, um
local fora da Ucrânia, com o apoio financeiro de parceiros e com
procuradores e juízes internacionais – seria um novo formato”,
acrescentou a chefe da diplomacia alemã.O
Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão publicou em seguida, na rede
social Twitter, que Annalena Baerbock queria “apoiar a Ucrânia ao nível
internacional na criação de um tribunal especial para julgar a guerra
em Haia”.Baerbock apelou igualmente para
alterações ao estatuto do TPI, que tem sede em Haia, para que este passe
a ter competência para julgar os responsáveis russos por agressão.Neste
momento, a única outra alternativa passa por uma resolução do Conselho
de Segurança da ONU, mas esta seria travada por um veto da Rússia,
membro permanente desse órgão.O apelo da
Alemanha para a criação de um tribunal especial surge depois de a
presidência semestral sueca do Conselho da União Europeia (UE) ter
declarado que o bombardeamento russo de sábado de um edifício
residencial em Dnipro, a quarta maior cidade da Ucrânia, que fez pelo
menos 40 mortos, constitui “um crime de guerra”.Numa
conferência de imprensa conjunta com o presidente do Conselho Europeu,
Charles Michel, o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, condenou o
que caracterizou como “um ataque horrível”, sublinhando a presença de
crianças entre as vítimas mortais. Entretanto, o Kremlin (Presidência
russa) negou qualquer responsabilidade sobre esse ataque a alvos civis.Um
porta-voz do Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep
Borrell, condenou também Moscovo e declarou que “não haverá impunidade”.A
ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na
Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas – 6,5
milhões de deslocados internos e mais de 7,9 milhões para países
europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica
esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra
Mundial (1939-1945).Neste momento, 17,7
milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões
necessitam de ajuda alimentar e alojamento.A
invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a
necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança
da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade
internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e
imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.A
ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje
entrou no seu 327.º dia, 7.031 civis mortos e 11.327 feridos,
sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.