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Bento XVI solidário com os judeus e condena Holocausto
Papa Bento XVI afirmou a sua «solidariedade» com os judeus e condenou a negação do Holocausto, após as declarações de um bispo fundamentalista a negar a existência das câmaras de gás.

Autor: Lusa/AO Online
    Bento XVI também pediu aos quatro bispos fundamentalistas, aos quais anulou a excomunhão, para reconhecerem «a autoridade do Papa e do Concílio do Vaticano II», que rompeu com a tradição cristã de atribuir aos judeus a morte de Cristo.

    «O Holocausto deve ser para todos um aviso contra o esquecimento e a negação», disse o Papa numa declaração a concluir a audiência geral semanal.

    Na terça-feira, o Vaticano divulgou um comunicado do superior-geral da Congregação Santo Pio X, ultraconservadora, no qual pede "perdão" ao Papa e a "todos os homens de boa vontade" depois de um dos seus bispos ter declarado que nenhum judeu foi gaseado durante a Segunda Guerra Mundial.

    O bispo Bernard Fellay, superior geral da sociedade tradicionalista Santo Pio X, declarou que a sua congregação não partilha os pontos de vista do bispo Richard Williamson sobre o que Fellay chama "genocídio" dos judeus pelos Nazis.

    No comunicado, afirma que proibiu Williamson de falar em público sobre quaisquer questões históricas ou políticas a partir de agora.

    O serviço de imprensa do Vaticano divulgou a nota de Fellay no âmbito das tentativas para acalmar as críticas dos judeus de que Bento XVI retirou a excomunhão de Williamson apesar dos seus pontos de vista sobre o Holocausto.

    "As afirmações de Williamson não reflectem de modo nenhum a posição da nossa Congregação. Por isso, proibi-o até nova ordem de fazer qualquer afirmação pública sobre questões políticas ou históricas", afirmou o superior da ordem.

    Williamson garantiu no passado dia 21 de Janeiro, numa televisão sueca, que "não existiram câmaras de gás" e que apenas 300 mil judeus "e não seis milhões" morreram nos campos de concentração nazis, "mas nenhum foi gaseado", o que pôs em pé de guerra a comunidade judaica internacional.

    No sábado passado, 21 anos depois de serem excomungados, Bento XVI levantou esta sanção aos quatro bispos consagrados pelo falecido arcebispo cismático Marcel Lefebvre em 1988.

    Tratam-se de Bernard Fellay, superior da Fraternidade de Santo Pio X, o espanhol Alfonso de Galarreta, o francês Tissier de Mallerais e o britânico Richard Williamson.

    Os quatro foram excomungados automaticamente ao serem ordenados por Lefebvre contra a vontade de João Paulo II. Lefebvre também foi excomungado, assim como o bispo brasileiro já falecido Castro Mayer, que participou na cerimónia.

    A revogação das excomunhões coincidiu com as declarações negacionistas do prelado tradicionalista, que foram duramente criticadas pela comunidade judaica e qualificadas como una "infâmia" por Renzo Gattegna, presidente da União das Comunidades Judaicas italianas.

    Gattegna exigiu ainda ao Vaticano que intervenha e "tome uma decisão" sobre Williamson.

    O rabino de Roma, Riccardo Di Segni, assegurou que a reabilitação do prelado "abrirá uma profunda ferida no diálogo católico-judaico" e o rabino David Rosen, presidente do Comité Internacional Judaico de Questões Interreligiosas, disse que a Igreja ficava "contaminada".