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Bela Cerveja nasceu na Terceira e quer conquistar o arquipélago

A Bela Cerveja nasceu na Ilha Terceira, onde conquistou o primeiro público e moldou a sua identidade artesanal. Agora, prepara a abertura da sua fábrica em São Miguel, afirmando-se como um projeto que vai além da cerveja.


Autor: Maria Andrade

A Bela Cerveja nasceu da vontade de criar uma cerveja artesanal com identidade açoriana, ligada profundamente à cultura e ao território das ilhas. O projeto teve início na Ilha Terceira, onde encontrou o seu primeiro público.

“A Terceira teve um papel essencial no início do projeto: foi lá que sentimos as primeiras reações, que ligámos com o público e ganhámos o ritmo certo. A influência da ilha está presente no espírito da marca — direta ou indiretamente.”, afirmou o mestre cervejeiro internacional Guillaume Pazat.

Idealizada por Guillaume Pazat, a Bela Cerveja conta com uma equipa multidisciplinar. Entre os fundadores estão os irmãos José e João Albergaria, designer e comandante da SATA, respetivamente, que contribuem com a identidade visual e a logística inter-ilhas. A artista plástica Sandra Rocha, natural da Terceira, também integra a equipa, tendo sido responsável pela curadoria do espaço cultural da marca em Angra do Heroísmo.

Atualmente, a produção ainda não é realizada nos Açores. “Trabalhamos em modelo de gipsy brewing, com cervejeiras parceiras e amigas no continente, que nos permitem garantir qualidade e consistência, ao mesmo tempo que desenvolvemos as nossas receitas e a presença da marca.”, explicou Guillaume Pazat ao Açoriano Oriental.

No entanto, a partir de outubro de 2025, a Bela inaugurará a sua fábrica própria em São Miguel, na zona dos Valados, em Ponta Delgada. Segundo o mestre cervejeiro este já é um local que funciona como ponto de encontro cultural, com exposições, performances e noites de DJs locais.

O espaço contará com bar de degustação e venda direta, fortalecendo a ligação com a comunidade local e turistas, referiu. “Step by step, vamos construindo o caminho para termos produção em ambas as ilhas.”, afirmou Guillaume Pazat.

Na Terceira, o Bela Bar, taproom situado no centro de Angra do Heroísmo, é o local onde a marca está mais presente. Aberto até tarde, promove eventos culturais, jantares pop-up e colaborações com artistas e músicos da ilha.

Guillaume Pazat confessou ao AO que a aposta na utilização de ingredientes locais ainda está em desenvolvimento, mas salienta que a ligação à ilha e ao arquipélago é clara. A edição de Natal, criada em colaboração com a Cervejaria do Canto, na Terceira, é um exemplo: uma cerveja efémera inspirada no tradicional doce Dona Amélia, que revelou  o potencial dos sabores açorianos na produção artesanal.

Com a nova fábrica em funcionamento o objetivo é que a integração de produtos regionais passe a fazer parte da rotina, explorando o que cada ilha tem para oferecer em termos de ingredientes únicos.

Quanto aos sabores, a Bela oferece quatro referências principais: uma pale ale leve e fresca chamada "Bela", a aromática American IPA "Climax", a lager gastronómica "Fatale" e a witbier experimental "Unique", cujas versões sazonais abrem espaço para a criatividade e a utilização de matérias-primas locais.

“Estas quatro cervejas representam bem o nosso estilo: equilibrado, criativo e com raízes na tradição, mas sem medo de explorar o novo. As efémeras são essenciais para nós — é aí que experimentamos, arriscamos, colaboramos. E muito em breve, haverá novidades”, disse o especialista.

Produzir cerveja artesanal numa região insular apresenta desafios logísticos consideráveis em termos de logística. “Não vale a pena dourar a pílula: é um inferno”, admite Guillaume Pazat.

Os custos, a instabilidade nos transportes e a dificuldade em manter cadeias de fornecimento exigem gestão rigorosa, diz o cervejeiro. Além disso, grandes grupos dificultam o crescimento de marcas independentes no mercado açoriano.

“É estranho que, numa região que tanto valoriza o que é local e autêntico, ainda se perpetuem mecanismos que bloqueiam precisamente a inovação e os projetos de proximidade. Há espaço para todos, e um mercado mais justo só beneficia os consumidores, os produtores e a cultura em geral.”, afirmou.