BE quer respostas do Governo e EDA sobre “conflito de interesses”
27 de set. de 2024, 16:00
— Rafael Dutra
O BE defende que deixar a EDA decidir o preço do combustível que vai
comprar para produzir eletricidade nos Açores é como “pedir à raposa
para guardar o galinheiro” porque mantém a situação de “gigantesco
conflito de interesses”, podendo colocar o vendedor a decidir a sua
própria margem de lucro. Por este motivo, o Bloco anunciou que vai
propor a audição da secretária regional do Turismo, Mobilidade e
Infraestruturas e do presidente da EDA no parlamento regional sobre este
assunto.O partido recorda, em nota de imprensa, que no início do
ano passado, o parlamento dos Açores aprovou, com o voto favorável de
todos os partidos, uma resolução do BE, que “recomendou ao Governo
Regional a realização de estudos – com a devida antecedência – para
encontrar a melhor solução económica e ambiental para o modelo de
fornecimento de combustível para a produção de energia a partir de 2025,
altura em que termina o atual contrato de exclusividade – celebrado por
ajuste direto – com a empresa BENCOM, que, entre 2013 e 2021, faturou
375 milhões de euros (ME) com este negócio”.Ainda nesta nota, o
Bloco refere que entre 2009 e 2021, a EDA – empresa maioritariamente
pública, mas detida em 39% pelo Grupo Bensaude – pagou à BENCOM –
empresa totalmente detida pelo Grupo Bensaude – 22 ME acima do valor
aceite pela entidade reguladora do setor.“O contrato existente entre
a região e o grupo Bensaude garantiu lucros astronómicos à Bensaude e
taxas de rendibilidade muito acima da média do setor”, explicou António
Lima.A proposta do Bloco de Esquerda aprovada por unanimidade
pretendia “acabar com este abuso, procurando assegurar o fornecimento à
Região de combustível para produção de eletricidade em condições justas,
que defendessem o interesse público”.“Mas o governo regional
decidiu, no entanto, ignorar por completo esta resolução aprovada também
pelos partidos que integram o governo e optou por entregar as decisões
sobre a aquisição de combustível para a produção de energia totalmente à
EDA”, prossegue o BE.“Já este mês, o governo publicou uma resolução
que determina que o preço de venda de fuelóleo nos Açores será o que
resultar do contrato entre a EDA e o fornecedor de fuelóleo, que será
muito provavelmente a BENCOM, empresa do grupo Bensaude”, lê-se na nota
do Bloco.O coordenador do BE/Açores estranha que o governo não tenha
tido uma palavra a dizer sobre “um contrato milionário de 54 ME por
ano”, que diz ser “talvez o maior contrato público atual na Região”, e
que representa valores superiores ao que a Região paga por ano pelo
transporte aéreo ou pelas SCUT.“Um contrato de 162 ME por três anos
não é suficientemente importante para que o governo regional venha a
público explicar os seus contornos e os problemas que sucederam no
concurso público. Uma enorme falta de transparência”, afirmou.O
Bloco nota ainda que o concurso lançado pela EDA, “aparentemente, não
inclui o armazenamento de combustível”, lembrando que as infraestruturas
de armazenamento de combustível existentes na Região pertencem à
Bensaude.“Como será contratado ao grupo Bensaude o armazenamento de
combustível? E quanto vai custar?”, pergunta António Lima, recordando
que a Região também tem poder negocial forte, porque “sem a EDA, a
BENCOM vê o seu negócio reduzido a quase nada”.“Este é um grande
negócio que não pode servir para garantir milhões em rendas excessivas
ao maior grupo económico da Região” e “o governo regional, qualquer que
seja, tem de defender o interesse público, garantir o fornecimento do
combustível para produção de eletricidade a um preço justo e promover
uma verdadeira transição energética”, concluiu o deputado do Bloco.