Autárquicas
BE/Açores rejeita coligações mas admite apoiar movimentos de cidadãos

O BE/Açores rejeita fazer coligações nas eleições autárquicas, mas poderá apoiar movimentos de cidadãos, segundo a moção que o líder regional do partido, António Lima, vai apresentar na convenção, agendada para 05 de junho, em Ponta Delgada.


Autor: Lusa/AO Online

Na única moção global, denominada “Combater as desigualdades, construir o caminho à esquerda”, António Lima, que se recandidata na VII Convenção Regional do BE/Açores, declara que na região o Bloco apresentará nas eleições autárquicas “listas próprias, abertas à participação de candidatos independentes e não realizará coligações, nem com a direita, nem com o PS, podendo apoiar movimentos de cidadãos”.

A convenção do BE/Açores, onde será eleita a direção regional do partido para os próximos dois anos, esteve inicialmente marcada para 2020, mas acabou por ser adiada devido à pandemia de Covid-19.

No quadro da pandemia, o dirigente do BE/Açores considera que o “lento arranque do processo de vacinação na Europa, a par do fraco apoio à economia, ao emprego e em apoios sociais, atrasará a retoma, causando mais falências e desemprego, com consequente aumento das desigualdades e da pobreza, o que nos Açores, a região do país com maiores níveis de pobreza, é dramático”.

Para António Lima, o Governo da República “age como se governasse em maioria absoluta, desrespeitando até o próprio Orçamento do Estado, como se verifica com a opção de não escolher um novo terreno para o Estabelecimento Prisional de Ponta Delgada, como determinava o Orçamento do Estado de 2020, por proposta do Bloco de Esquerda”.

“O BE/ Açores continuará a exigir o cumprimento dos compromissos assumidos, mas também o cumprimento de todas as responsabilidades do Governo da República na região. O Governo da República deve ser um parceiro dos grandes projetos de desenvolvimento nos Açores, como aqueles que dizem respeito à investigação do mar”, refere-se na moção global.

No texto, o líder do BE/Açores recorda ainda que o partido “opôs-se desde a primeira hora ao regresso da direita ao poder nos Açores com o apoio de um partido de extrema-direita assumidamente racista e xenófobo”.

António Lima salvaguarda, contudo, que “apesar da avaliação negativa” que faz dos governos socialistas na região, o BE/Açores “tomou a opção correta ao afirmar que, se necessário fosse, viabilizaria o programa de governo do PS para evitar que a direita apoiada na extrema-direita chegasse ao poder”.

Na perspetiva do Bloco, após 24 anos de governos socialistas no arquipélago, o PS “manteve os Açores como região pobre, desigual, com baixos níveis de escolaridade e sem perspetivas de futuro”.

“Essa política abriu espaço à direita e à extrema-direita, que culpam as falsas políticas socialistas que o PS implementou durante duas décadas e que pouco diferem daquelas que eram propostas por essa mesma direita”, lê-se no documento.

Para António Lima, a formação de um governo de direita nos Açores com o apoio da extrema direita “significou o fim de qualquer ideia de cordão sanitário à extrema-direita em Portugal”, sendo que a “direita açoriana, liderada pelo PSD, abriu os braços ao Chega logo à primeira oportunidade”.

O Governo Regional dos Açores, de coligação PSD/CDS-PP/PPM e liderado pelo social-democrada José Manuel Bolieiro, é suportando no parlamento açoriano pelos partidos do governo, pela Iniciativa Liberal e pelo Chega.

Considerando que a saída do PCP do parlamento dos Açores “constitui um retrocesso para a esquerda”, o BE/Açores propõe-se ainda defender políticas de proteção ambiental e bem-estar animal e “trabalhar pelo desenvolvimento económico cada vez mais assente na ciência e na tecnologia”.

“Estaremos sempre na linha da frente pela defesa da igualdade de género. Manteremos a nossa luta contra a desigualdade salarial entre homens e mulheres, pela igual participação e representação política e pelos direitos das pessoas LGBTQI+ [(Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo]. Combateremos o assédio, a violência sexual e violência de género”, sustenta-se no moção.

O BE/Açores considera também ser “urgente uma integração de precários da administração pública que seja abrangente, democrática e célere, como tem proposto o Bloco”, sendo que os subsídios à criação e manutenção de postos de trabalho “só devem apoiar a criação de emprego estável, com direitos”.

O Bloco “continuará a lutar por uma política de resíduos que defenda o ambiente, com o horizonte do objetivo zero resíduos, rejeitando a construção de novas incineradoras nos Açores”, é ainda referido na moção.

O BE/Açores defende ainda ser “urgente um novo plano de ordenamento turístico que rejeite a contínua proliferação de grandes empreendimentos e aposte num turismo ecológico e sustentável” e preconiza um “reforço da democracia e da autonomia, mantendo a interdependência de poderes no sistema político regional e a consensual extinção do cargo de representante da República”.