BE/Açores denuncia esquema “profundamente lesivo” entre região, EDA e grupo Bensaude

25 de mai. de 2022, 19:49 — Lusa/AO Online

Numa conferência de imprensa em Ponta Delgada, o coordenador do BE na região, António Lima, avançou que, em dezembro de 2009, foi assinado um “acordo de exclusividade de fornecimento de fuelóleo” entre o Governo Regional e a BENCOM (empresa detida em 100% pelo grupo Bensaude).O bloquista afirmou que o contrato tem a duração de 10 anos e é “renovável automaticamente por períodos de cinco anos, a menos que uma das partes o denuncie com a antecedência mínima de dois anos”.“Este contrato serve para garantir o fornecimento de fuelóleo à região. Essencialmente à EDA – Eletricidade dos Açores, que consome cerca de 80% do fuelóleo da região. (…) Obriga a EDA a adquirir todo o fuelóleo que tem necessidade à BENCOM, não podendo adquirir a outros fornecedores”, afirmou.António Lima realçou que o Bloco já questionou o Governo dos Açores sobre o assunto e que o executivo disse desconhecer a fórmula que define o preço máximo do fuelóleo que a EDA paga à BENCOM.“A BENCOM é detida pelo grupo Bensaude que, por sua vez, também detém 39,7% do capital da EDA. Ou seja, estamos a falar de empresas que estão relacionadas e que têm acionistas comuns”, apontou.O BE avançou que, no mesmo mês (dezembro de 2009), foi firmado um outro contrato entre o Governo Regional e a EDA, em que a região assume a “parte do preço do custo de combustível” que ultrapassa o valor máximo definido pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) para o arquipélago açoriano.“Além desse contrato de fornecimento de combustível de fuelóleo, existe um acordo firmado em dezembro de 2009 entre o Governo Regional e a EDA. A região assume nesse acordo que compensa a parte do preço do custo de combustível que não é aceite pelo regulador”, declarou.Segundo disse o bloquista, a “justificação” do executivo para firmar aquele acordo foi “não penalizar os resultados financeiros da EDA”.António Lima considera que essa compensação financeira “configura um auxílio de Estado à EDA”, que permite uma “sobre-remuneração do fornecedor de fuelóleo face aos valores admissíveis calculados pela ERSE” e que “pode constituir uma ilegalidade”.“Este esquema que foi montado é, na nossa opinião, profundamente lesivo do interesse público porque coloca a região, e, por consequência, todos nós, os contribuintes, a pagar os eventuais custos com a aquisição de fuelóleo que não são aceites pelo regulador”, apontou.Face aos contratos, denunciou, a EDA “nunca fica a perder” porque tem a “compensação” da região e o grupo Bensaude “ganha por duas vezes”, por via da venda do combustível e através dos dividendos da elétrica açoriana.