BE/Açores critica privatização de 51% da SATA Azores Airlines
8 de jun. de 2022, 10:53
— Lusa/AO Online
Em comunicado, o
BE/Açores defende que o plano “coloca os contribuintes a pagar um plano
de reestruturação que tem uma clara intenção de desmantelar e
privatizar o grupo SATA, mantendo apenas e para já a SATA Air Açores
[responsável pelas ligações interilhas], deixando a mobilidade dos
açorianos e açorianas nas mãos do mercado e colocando também em causa os
postos de trabalho”.“A privatização da
SATA Azores Airlines [responsável pelas ligações com o exterior da
Região Autónoma] significa que serão os contribuintes a pagar os
prejuízos acumulados para entregar uma empresa limpinha a uma companhia
aérea privada, no que constitui um negócio de sonho para os privados,
mas ruinoso para os contribuintes”, lamenta o BE.A
Comissão Europeia aprovou uma ajuda estatal portuguesa para apoio à
reestruturação da companhia aérea açoriana SATA, de 453,25 milhões de
euros em empréstimos e garantias estatais, prevendo ‘remédios’ como uma
reorganização da estrutura empresarial.A
injeção financeira implica o desinvestimento de uma participação de
controlo (51%) na Azores Airlines, o desdobramento da atividade de
assistência em terra e uma reorganização da estrutura empresarial da
SATA, com a criação de uma ‘holding’ que substitui a SATA Air Açores no
controlo das suas operações subsidiárias, revelou a Comissão
Europeia.Estão ainda previstas a obrigação
de a SATA ter um limite máximo na sua frota até ao final do plano de
reestruturação e a proibição de, também até esse prazo, fazer qualquer
aquisição de aviões.Para o BE, “o plano de
restruturação da SATA aprovado pelo Governo Regional da direita
[PSD/CDS-PP/PPM]e pelo Governo da República do PS é um ótimo negócio
para os privados e um péssimo negócio para os açorianos e açorianas”.O
BE “sempre defendeu que a recapitalização da empresa é fundamental para
reduzir o peso da sua dívida e permitir o regresso à sustentabilidade
da operação e a sua manutenção na esfera pública a 100%”, é referido na
nota.“No entanto, a Comissão Europeia e o
Governo Regional impõem em paralelo à recapitalização, que atinge 453
milhões de euros em diversas modalidades, a privatização de 51% da SATA
Azores Airlines”, criticam os bloquistas.Para
o BE, “abdicar da SATA Azores Airlines é deixar as ilhas com ‘gateways’
não liberalizadas [Pico, Faial e Santa Maria] sem garantia de manterem
as acessibilidades ou, em alternativa, aumentar muito os custos para as
manter”.Por outro lado, é acrescentado, a
privatização “significa também colocar em causa as ligações à diáspora,
assim como renunciar a um instrumento económico importantíssimo para os
Açores, ao nível do fomento e atração da atividade económica na região”.“A
separação da operação de ‘handling’ e desinvestimento anunciada pela
Comissão Europeia é um sinal claro da intenção de entregar essa área de
negócio a privados, tal como aconteceu no passado com a TAP, para
garantir o negócio a privados”, sublinha o partido.Tal
“coloca em causa os postos de trabalho, com a agravante de acontecer
num momento de crise e incerteza”, lê-se ainda no comunicado.A
verba aprovada pela Comissão Europeia divide-se em empréstimos diretos
de 144,5 milhões de euros e assunção de dívida de 173,8 milhões de
euros, num total de 318,25 milhões de euros a converter em capital
próprio, e em garantias estatais de 135 milhões de euros concedidas até
2028 para financiamento facultado por bancos e outras instituições
financeiras.Bruxelas diz ter verificado
que “a ajuda é necessária e adequada para assegurar que a SATA, sendo
uma empresa em dificuldade, irá ser viável a longo prazo sem a
necessidade de apoio público contínuo”.As
dificuldades financeiras da SATA perduram desde pelo menos 2014, altura
em que a companhia aérea detida na totalidade pelo Governo Regional dos
Açores começou a registar prejuízos, agravados pelos efeitos da pandemia
de covid-19, que teve um enorme impacto no setor da aviação.A Comissão Europeia anunciou ter encerrado a investigação aberta
em agosto de 2020 à transportadora açoriana SATA sobre os apoios
públicos de Portugal, após a empresa ter reembolsado ao Estado português
as verbas facultadas para aumentos de capital.