BE/Açores acusa Governo da República de não querer construir cadeia de Ponta Delgada
26 de ago. de 2020, 17:03
— Lusa/AO Online
“O
Governo da República insiste em ignorar a lei do Orçamento do Estado
para 2020, que obriga a encontrar um novo terreno para o início imediato
da construção de um novo estabelecimento prisional na ilha de São
Miguel”, defendeu o partido, em comunicado.As
declarações surgem no seguimento da resposta ao requerimento do
deputado bloquista José Manuel Pureza, em que questionava porque é que o
Governo insiste no terreno da Mata das Feiticeiras, na Lagoa, para a
construção da nova cadeia.O terreno em
causa obrigou ao adiamento da construção do edifício, devido à
necessidade de remoção da pedra vulcânica bagacina, uma intervenção que
implica um custo superior a três milhões de euros e que deverá demorar
cerca de dois anos.Na resposta ao
requerimento, o gabinete do secretário de Estado Adjunto e da Justiça
menciona que as intervenções de remoção da bagacina e de terraplanagem
do terreno foram adjudicadas e que “a decisão de adjudicação é o ato
procedimental definitivo que põe termo ao procedimento pré-contratual”,
razão pela qual “ficou claro que se impõe, no caso, ao MJ [Ministério da
Justiça] o dever de celebração do contrato de empreitada”.Já
para o Bloco de Esquerda, “fica claro que para o Governo da República é
mais importante remover a bagacina da Mata das Feiticeiras do que
construir um novo estabelecimento prisional”.O
documento remetido pelo executivo elenca ainda várias intervenções no
atual edifício do estabelecimento prisional de Ponta Delgada, o que,
segundo a estrutura partidária, “deixa transparecer que a real intenção
do Governo da República é utilizar o atual estabelecimento prisional
durante muitos anos, para além daqueles que seriam necessários para
remover o monte de bagacina e construir uma nova cadeia”.“Além
disso, o facto de a pergunta sobre o compromisso do governo para a data
de entrada em funcionamento do futuro estabelecimento prisional ter
ficado sem resposta é demonstrativo desta falta de intenção em avançar
com a concretização do atual projeto”, prossegue o comunicado.A
resposta formulada pelo Governo da República menciona, ainda, a
constante diminuição da taxa de ocupação da cadeia de Ponta Delgada,
que, em janeiro de 2019, era de 160%, com 177 reclusos afetos, e que, em
20 de agosto, data em que foi assinado o documento, era de 55,3%, com
78 reclusos.O Bloco de Esquerda denuncia,
no entanto, que a missiva do Governo “não refere que esta diminuição é
feita às custas da deslocação de dezenas de reclusos para a ilha
Terceira, facto que só é compreensível devido às condicionantes da
pandemia de covid-19, e que terá de ser necessariamente uma situação
temporária, sob pena de obrigar estes reclusos a uma dupla pena, porque
não só estão privados de liberdade, mas também do contacto com os seus
familiares”.A estrutura regional aponta
que esse afastamento entre os reclusos e os familiares “tem repercussões
gravíssimas no processo de reinserção e reintegração na sociedade”.