Bastonário dos médicos apela ao Presidente da República para ajudar a transformar o SNS
12 de ago. de 2022, 17:19
— Lusa/AO Online
“A falta de
condições de trabalho destes profissionais deveria gerar um grande
nível de preocupação e de solidariedade de todos os nossos decisores
políticos e não o contrário”, defende em comunicado o bastonário da
Ordem dos Médicos (OM) em reação às declarações de Marcelo Rebelo de
Sousa, em que o Presidente da República afirma que as “escusas de
responsabilidade não valem nada juridicamente”.Miguel
Guimarães observa que o número de médicos especialistas que têm optado
por trabalhar fora do SNS “nunca foi tão elevado” e deixa um alerta:
“Neste momento crítico é necessária prudência. Nunca devemos esquecer
que a pressão brutal e desmedida exercida sobre os médicos origina a sua
saída do SNS”.Para o bastonário da OM, as
declarações do chefe de Estado, em entrevista à CNNPortugal, “ao
negarem a utilização de um mecanismo jurídico previsto no próprio texto
da Constituição da República Portuguesa, não contribuem para a defesa do
SNS, nem defendem os doentes”.“Na
verdade, estas afirmações, que lamentamos, podem contribuir para agravar
a atual crise que se vive na saúde, levando os médicos a abandonar o
SNS como única forma de se salvaguardarem das condições de exercício da
sua atividade”, alerta.Miguel Guimarães
adverte que há cada vez mais médicos a ter de recorrer a esta forma de
salvaguarda da sua atuação, mas assegura que “em nenhuma circunstância”
um médico deixa de observar as boas práticas médicas pelo facto de ter
apresentado a declaração. “Os médicos
continuam a trabalhar, mesmo em condições que não são adequadas, porque
não querem que os doentes fiquem sem acesso aos cuidados de saúde de que
necessitam. Isso é de louvar”, realçou.Contudo,
disse ser “um dever profissional, ético e deontológico” do médico
alertar quando não estão reunidas as condições necessárias para exercer,
no sentido de proteger os doentes”.
“E, se por causa dos motivos invocados, ocorrerem danos, a
responsabilidade disciplinar, penal e civil dos médicos pode ser
mitigada ou até excluída conforme refere a lei”, afirma. Por estas razões, Miguel Guimarães diz lamentar e estranhar as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa.“Respeitamos
o Senhor Presidente da República e a sua atuação, mas não podemos
deixar de estranhar que faça declarações menos claras sobre matérias que
estão protegidas pela lei e pelo artigo 271.º da Constituição,
provocando um evitável alarme junto dos médicos e confundindo a
população portuguesa pela suposta ausência de suporte jurídico do que é,
e do que implica, uma escusa de responsabilidade de um médico”,
salienta.Miguel Guimarães deixa ainda um
apelo ao Presidente da República para que “ajude a reforçar e
transformar o SNS” e “a construir pontes que possam reforçar a motivação
e grau de satisfação de quem todos os dias faz acontecer o SNS”.