Bares e discotecas de Lisboa lamentam silêncio do Governo
Covid-19
9 de jun. de 2020, 12:04
— Lusa/AO Online
O lamento veio dos cerca de 200 responsáveis
de bares e de discotecas, maioritariamente dos lisboetas Bairro Alto,
Cais do Sodré, Estrela e Campo de Ourique, que protestaram hoje diante
da Assembleia da República, em Lisboa, para exigir a reabertura das suas
atividades. Empunhando cartazes em que se
podia ler "Fomos os primeiros a fechar, há melhor exemplo?", "Igualdade
para todos, a noite também é cultura" ou ainda "Mesmo sem receber o
'lay-off' queremos abrir o gostoso", a manifestação, que se tornou em
marcha em redor do quarteirão defronte ao parlamento, passou de
silenciosa a um conjunto de bater palmas, único momento em que se
quebrou o silêncio.Os manifestantes foram
interpelados pela polícia, tendo identificados alguns dos organizadores,
sem que, no entanto, houvesse qualquer perturbação do protesto, tendo
respeitado o distanciamento social, bem como as medidas de segurança
sanitária.“O objetivo [da concentração] é
termos respostas, estas respostas não chegam. Temos ouvido de todo o
lado que o assunto está em cima da mesa, mas está em cima da mesa há
muito tempo. O que nós precisamos é de uma resposta. Não podemos
continuar a viver assim, a viver do ar. E é assim que estamos a viver há
muito tempo”, disse à agência Lusa Andreia Meireles.Segundo
a representante do Grupo de Bares e Comerciantes da Misericórdia, que
já vai na segunda iniciativa - a primeira ocorreu a 21 de maio -, há
três meses que estão sem trabalho, lembrando a necessidade de uma maior
justiça uma vez que muitos dos estabelecimentos encerraram ainda antes
de ser decretado o estado de emergência.“Há
cerca de três meses que não recebemos rigorosamente nada. Tem sido
complicado, mas teria de perguntar a cada um de nós. Mas ao que sei com
ajudas de familiares, amigos e acumular dívida. É o que nos está a
acontecer, a acumular dívida”, frisou, lamentando o silêncio de todas as
entidades oficiais.Andreia Meireles
realçou que já enviou pedidos para muitos organismos e que ninguém os
recebeu, mas que ainda se esperou quem alguém tomasse a iniciativa, o
que não aconteceu e nem sequer se obteve qualquer resposta.“[Do
Governo] Absolutamente nada. O que sabemos são informações paralelas,
de alguém que conhece alguém e que diz que vai haver… E vão-se passando
semanas e semanas e a resposta não surge. A perspetiva é zero e o futuro
não é nada risonho. Estão aqui centenas de pessoas à beira da falência,
empregados que não recebem, pessoas que têm filhos, famílias, contas
por pagar”, frisou.Questionada pela Lusa
sobre qual o passo seguinte, Andreia Meireles disse considerar essa uma
“boa pergunta”, uma vez que os mais de 500 empresários da noite na
freguesia da Misericórdia estão a sentir-se desmotivados e sem saber o
que fazer no dia seguinte., sobretudo «nos pequenos negócios “os mais
afetados”.“Vamos continuar [a enviar
cartas, ‘e-mails’ e comunicados], embora o que sentimos é que isto está a
ser uma luta inglória, não há sequer uma resposta, nem um não, do outro
lado. É a completa ausência de resposta. Não podemos continuar a viver
assim. Vamos fazer a nossa parte, só queríamos que nos dessem resposta”,
lamentou.“Discriminação” é a palavra
utilizada por Fernando Santos, ator e diretor artístico do bar
Finalmente, com 44 anos de existência, pois não entende por que razão o
Governo está calado.“Estou aqui a tentar
perceber o porquê da discriminação deste meio noturno, destas salas de
espetáculo que têm servido Lisboa, Portugal, os portugueses, os
estrangeiros e o turismo. Porque não há uma previsão para nós. Há para
os ginásios, há para uma série de outros setores e o dos bares e
discotecas da noite não há uma previsão. Precisamos de trabalhar, todos
precisam de trabalhar”, salientou.Sem
trabalhar desde meados de março, Fernando Santos apelou ao executivo de
António Costa para que “perceba” que “há muita gente da noite” que
precisa de regressar ao trabalho.“É
discriminatório. O silêncio é discriminatório. É preciso perceber que há
bairros que estavam cheios de vida noturna. Temos de nos tornar
visíveis, para que o governo perceba que há muita gente da noite que
precisa de apoio, de um consenso. É preciso uma solução, um apoio, de
algo que nos possa dar uma perspetiva. É impossível continuarmos assim
sem pelo menos termos uma ideia do que pode acontecer”, concluiu.