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Azores Wine Company, dez anos a revolucionar o setor dos vinhos nos Açores

A Azores Wine Company (AWC) poderia ser apenas mais uma marca de vinhos produzidos no Pico mas esse nunca foi o objetivo. Completou, em 2024, dez anos de existência



Autor: Made in Açores

Um projeto que começou, oficialmente, em 2014, no Pico, pelos continentais Filipe Rocha e António Maçanita e pelo picaroto Paulo Machado. “O António Maçanita tem uma costela açoriana (pai de São Miguel) e sempre teve interesse em contribuir para a Região. Começámos a trabalhar juntos em 2007, quando o convidei para dar aulas na Escola de Hotelaria, em Ponta Delgada, e em 2010, fez o seu primeiro vinho nos Açores. O salto para o Pico é um passo natural, pois é a ilha com maior produção nos Açores. Juntámo-nos, em 2013, ao Paulo Machado, que já tinha o projeto Insula, e acredito que essa vindima foi o início de uma grande revolução nos Açores – poucos meses depois fundámos a Azores Wine Company. Em 2021, o Paulo regressa ao seu projeto original”, recorda Filipe Rocha.


A Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico havia conseguido a sua classificação como Património da Humanidade, pela UNESCO, em 2004, e havia muito a fazer. Com a vontade de mudar o “paradigma dos vinhos dos Açores” nasceu a AWC. É certo que o objetivo já foi conseguido, e com visível impacto a diversos níveis: da mudança da paisagem vinhateira, com a recuperação de grandes manchas de vinha, ao resgate de castas em vias do desaparecimento, sem esquecer a colocação do vinho do Pico nas bocas do mundo.


“Para quem não conheceu o Pico de há 15 ou 20 anos, é difícil imaginar que estávamos numa extraordinária região de vinhos à beira do desaparecimento. Para quem conheceu, era difícil sonhar que o Pico seria, hoje, uma das regiões de vinhos mais respeitadas em Portugal e com enorme procura da alta restauração no nosso país e no estrangeiro. Ser uma Paisagem Património não teria significado se as vinhas não fossem trabalhadas e recuperadas e se os vinhos não subissem o patamar de qualidade e reconhecimento. Foi esse o grande contributo da AWC! Fizemos com que a ilha e as pessoas voltassem a acreditar, voltassem à vinha e à produção de vinho. Há hoje novas gerações na vinha, a produzir e engarrafar vinhos e também novos projetos de turismo à volta deste produto único, que é o vinho”.


A valorização da uva é outra marca da AWC, com elevado impacto no setor. “A uva pagava-se a cerca de 0,80€/kg quando chegámos à ilha. Hoje, é a uva mais cara de Portugal, com preços entre 4 e 6€/kg - dez vezes mais do que a média que se paga no continente. É um dos locais mais extremos do planeta para se fazer vinho e com uva de enorme qualidade. Por isso, o trabalho tem que ser bem pago, mas só se consegue pagar este preço se os vinhos forem de qualidade extraordinária e, sobretudo, se forem vendidos nos locais certos, que podem pagar preços elevados e justos pelo produto”, enfatiza.


O reconhecimento dos vinhos fora do arquipélago requer também muito trabalho e esforço financeiro mas faltam apoios públicos. “Hoje mais produtores juntam-se a este enorme trabalho de dar a conhecer os nossos vinhos ao mundo. Somos uma gota no oceano e, durante os primeiros anos, apenas a AWC fez, verdadeiramente, prospeção e vendas a nível internacional. Este é um trabalho contínuo, que exige recursos e que deveria ter mais atenção por parte das autoridades regionais. Infelizmente, os apoios à internacionalização acabaram há cerca de um ano e o Governo não está a dar a devida atenção a este tema”, lamenta o empresário.


Promoção além-fronteiras e produção biológica

Numa década de existência e fruto de muita persistência, conseguiram colocar os seus vinhos em quase 30 países e em mais de meia centena de distribuidores. A sua carta de vinhos conta com 21 brancos, espumantes, tintos, rosés e licorosos, produzidos, sobretudo, a partir das castas tradicionais arinto dos Açores, verdelho e terrantez do Pico.


“Também recuperamos castas que fazem parte do nosso encepamento antigo, como boal e saborinho. Usamos também, em poucos vinhos, castas nacionais e internacionais que foram plantadas na ilha nas últimas duas décadas”, explica.


Sob a sua alçada estão 120 hectares de vinhas, parte das quais arrendados, mas, nos últimos anos, as condições climatéricas têm ditado a produção de apenas 50 mil garrafas anuais, “o que é manifestamente pouco, sobretudo para nós, que fizemos grandes investimentos”.


As áreas do turismo e da restauração fazem também parte da empresa, embora tenham surgido mais tarde. Em 2021 abriram ao público a nova adega, no Cais do Mourato, entre currais de vinha, que apresenta um espaço para provas de vinhos e ainda um restaurante e faz parte de um complexo de alojamentos turísticos.


“Para além do necessário espaço de vinificação, quisemos criar um produto turístico ao nível de qualidade dos vinhos. Com este edifício procuramos dar uma abordagem contemporânea à palavra 'adega', que tem um sentido único na ilha do Pico. Para além das provas de vinhos, temos um restaurante, que oferece duas diferentes experiências gastronómicas, ao nível do melhor que se faz nos Açores e no país, incluindo menus de degustação nos quais a experiência vínica desempenha, naturalmente, um papel de muito relevo. Para além disso, a adega tem seis apartamentos turísticos, bem equipados, com vistas para o mar, e bem inseridos na paisagem da vinha”.


Estando sempre o vinho na base de tudo, a AWC continua a traçar novas e arrojadas metas, mais recentemente com a produção biológica. “Tal como foi feito com os vinhos, há que criar um novo paradigma na vinha: encontrar a forma de fazer esta viticultura, com menos recursos humanos, e evoluir naturalmente para uma produção biológica. Têm sido muitos anos de ensaios e experiências. Pela primeira vez, este ano, temos uma área certificada de vinha em produção biológica. É a primeira nos Açores! A produção foi baixa e ainda não permite fazer um vinho 100% biológico, mas estamos a dar os passos na direção certa”, revela, confiante.


A terminar, revela as metas atuais: “Produzir mais e melhor, em simultâneo recuperar castas antigas, entender melhor o território, encontrar forma de reduzir o trabalho humano nas vinhas e melhorar a mecanização dentro das condicionantes possíveis. Em suma, consolidar o que temos, e depois sim, poder partir para novos desafios”.