Aves marinhas ameaçadas com maior risco de exposição ao plástico no Mediterrâneo
4 de jul. de 2023, 17:01
— Lusa
Publicado
na revista científica Nature Communications, o estudo aponta também a
Zona Económica Exclusiva (ZEE) de Portugal, sobretudo ao largo dos
Açores e da Madeira, “como uma região de risco moderado para as espécies
de aves que aí habitam e se alimentam”, indica um comunicado da
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.Coordenado
pela investigadora Maria Dias, do Centro de Ecologia, Evolução e
Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de
Lisboa, o trabalho reuniu mais de 200 cientistas em todo o mundo, 18 dos
quais portugueses, na identificação das áreas onde as aves estão mais
expostas aos resíduos plásticos e das espécies e populações mais
afetadas.A poluição dos oceanos por
plástico é reconhecida como uma ameaça crescente à vida marinha, sendo
as aves “um dos grupos mais ameaçados globalmente, com cerca de um terço
das espécies classificadas como ‘vulneráveis’, ‘ameaçadas’ ou
‘criticamente ameaçadas’ na lista vermelha da União Internacional para a
Conservação da Natureza”.“Os dados
permitem concluir que o risco não está distribuído uniformemente, devido
à acumulação de plástico em zonas onde as correntes marítimas e as
marés o favorecem”, afirma Maria Dias, citada no comunicado.Além
disso, as aves marinhas também se distribuem de forma desigual e
altamente variável ao longo do seu ciclo anual, sendo a maioria delas
espécies migratórias capazes de sobrevoar milhares de quilómetros de
mar. “Quando se juntam [uma alta concentração de pássaros e de plástico], o risco é muito maior”, acrescenta a investigadora.A
seguir ao Mediterrâneo, as zonas mais perigosas para as aves são o Mar
Negro, o noroeste e nordeste do Pacífico, o Atlântico sul e o sudoeste
do Oceano Índico.O estudo mostra ainda que
as espécies já em risco de extinção (devido à introdução de espécies
exóticas invasoras nas ilhas onde se reproduzem, à captura acidental ou
às mudanças climáticas) também estão mais expostas ao plástico. No
caso dos mares portugueses, a Cagarra-das-baleares, espécie
criticamente ameaçada cuja população migra quase na totalidade para a
ZEE nacional, “é um dos casos mais preocupantes”, destacando-se também a
Freira das Desertas, espécie endémica de Portugal, que foi identificada
como prioritária para outros estudos.A
equipa de cientistas analisou dados de 77 espécies de aves marinhas,
mais de 7.000 indivíduos e 1,7 milhões de posições, registadas através
de dispositivos de rastreamento remoto, juntamente com mapas de
concentração de plástico a nível global. Os
resultados do estudo podem agora ser interpretados e utilizados na
gestão e conservação do ambiente marinho por países em todo o mundo, o
que não é uma tarefa fácil. “A maioria das
espécies corre um risco maior de encontrar plástico em águas fora de
sua zona de reprodução e em águas internacionais. Isto significa que a
cooperação internacional é essencial para resolver este problema,
impondo o diálogo entre vários atores e aumentando a complexidade das
respostas”, salienta Maria Dias.A poluição
por plástico é um dos maiores problemas para os oceanos. Em cada ano
são despejados no mar mais de oito milhões de toneladas deste tipo de
lixo, de um material que não se degrada durante centenas de anos e que
se fragmenta em pequenas partículas igualmente prejudiciais, os
microplásticos.Estima-se que em 2050 os oceanos contenham mais toneladas de plástico do que de peixe.