Avaliação de emprego nas pescas nos Açores precisa de dados coerentes
9 de out. de 2019, 16:00
— Lusa/AO Online
O estudo encomendado
pela Direção Regional das Pescas do executivo açoriano procura “produzir
informação válida e validada sobre a dimensão social do setor”,
explicou a investigadora Ana Fraga, evidenciando que “tem havido
alguma incoerência, dependendo das fontes”, no relatório do que é o
ativo da pesca.Em entrevista à agência
Lusa, a especialista afirmou que é essencial “validar, primeiro, o
universo que corresponde ao ativo da pesca na região” e, depois, “aferir
a situação individual e perceber o impacto que tem ao nível do tecido
social local”.No âmbito da Conferência
Internacional sobre a Governança dos Oceanos em Regiões Arquipelágicas,
que decorre até quinta-feira, na Horta, Ana Fraga lembrou que, além do
emprego direto, que inclui “quem anda a bordo e quem está em terra, que
muitas vezes está inscrito em rol de tripulação, mas opera na preparação
das artes e preparação do trabalho em terra”, há uma segunda linha de
emprego associada à produção, que compreende, por exemplo, funcionários
das lotas e administrativos das associações locais, e ainda um terceiro
nível, da transformação à venda do peixe, passando pela inspeção e
controlo, e que não são contabilizados como empregos do setor.Nesses
níveis, o trabalho feminino é muito maior do que aquele que é
oficialmente contabilizado: “Se olharmos para os números, mesmo que
contabilizemos todas as mulheres que ativamente e diariamente estão
implicadas na gestão do setor, a esmagadora maioria são homens. Se
olharmos do ponto de vista do papel funcional em termos de gestão do
setor, aí, se calhar, os papéis invertem-se um bocadinho, e a verdade é
que é um setor muito gerido pelas mulheres, no sentido de atividades de
suporte à pesca”.O estudo que está a ser
feito pela Direção Regional das Pescas prevê ter, até ao final do ano, o
“mapeamento de quem são os restantes atores da fileira da pesca e
tentar perceber a distribuição de género, não só em termos
quantitativos, mas de distribuição de competências”, adiantou a
cientista.Para um retrato fiel do emprego
na pesca, falta “clarificar critérios e protocolos de recolha para que
se possa trabalhar em todo o país”, denunciou, acrescentando que as
autoridades competentes devem “parar para identificar que informações
são necessárias, que dados é preciso monitorizar e definir procedimentos
de recolha sistemáticos e de forma utilizável e padronizada, com
critérios pré-definidos, para que possamos trabalhar de uma forma
concertada e para que se possa responder às necessidades de
investigação, mas também às necessidades obrigatórias de relatório de
emprego e de Política Comum das Pescas”.Ana
Fraga salientou, ainda, que é preciso um "exercício de concertação na
gestão do espaço costeiro": “se o objetivo é caminhar no sentido do
desenvolvimento sustentável e trabalhar em cada realidade local nesse
sentido, isto tem de estar sempre muito presente”, já que “falar de
sustentabilidade implica triangulação entre desenvolvimento integrado
entre as esferas social, ambiental e económica”.“Não
se pode desenhar projetos nacionais para desenvolvimento de espaço
costeiro e pensar que ele se aplica a todo o território. Mesmo ao nível
da região, a realidade difere em todas as ilhas. Importa perceber
especificidades de cada comunidade e o papel da pesca em cada uma das
realidades”, completou.A conferência
internacional sobre a governança do oceano em regiões arquipelágicas é
organizada pela Secretaria Regional do Mar, Ciência e Tecnologia dos
Açores, em parceria com a Federação das Pescas dos Açores. Durante
quatro dias, serão abordadas questões como a pesca e a ciência,
literacia para os oceanos e socioeconomia, ordenamento do espaço
marítimo e áreas marinhas protegidas.