Autoridade de Saúde diz que organização de tourada não cumpriu orientações
18 de ago. de 2020, 17:22
— Lusa/AO online
“Não é de todo
compreensível que depois de terem participado na elaboração da circular,
e depois de uma atualização, não seja cumprido o que está disposto
nessa circular. Ou quem de direito, responsável pela organização dos
eventos, reconhece efetivamente que as coisas não correram bem e assume o
compromisso de cumprir com as orientações e recomendações ou temos de
fazer efetivamente aqui uma suspensão”, afirmou, em declarações à
agência Lusa, o responsável máximo da Autoridade de Saúde Regional dos
Açores, Tiago Lopes.Em causa está um
espetáculo tauromáquico realizado no passado sábado na Praça de Toiros
da Ilha Terceira, organizado pelo Grupo de Forcados Amadores do Ramo
Grande, em que terão participado mais de 2.000 pessoas.Segundo
Tiago Lopes, que é também diretor regional da Saúde, as imagens
veiculadas pela comunicação social comprovam que não foi cumprida uma
das principais orientações da circular informativa, que define as
medidas a adotar na realização de espetáculos tauromáquicos, no âmbito
da pandemia da covid-19, publicada em 04 de agosto.“Os
lugares para o público devem ser marcados e vendidos como tal,
precisamente para evitar a aglomeração de pessoas de forma desorganizada
e mesmo até, num possível diagnóstico de um caso positivo, assim
inviabilizar a identificação de contactos próximos que possam ter estado
junto desse caso positivo”, apontou.“Isso
não aconteceu e levou a que as pessoas comprassem os seus bilhetes e
desorganizadamente se sentassem onde bem entendessem, o que levou à
aglomeração de pessoas em determinados setores das bancadas, coisa que
não deveria ter acontecido e que foi articulada com qualquer uma das
entidades organizadoras”, acrescentou.Este
foi o segundo espetáculo realizado na Praça de Toiros da Ilha Terceira
em 2020, mas no primeiro, que decorreu no dia 08 de agosto, “não foi
reportada qualquer situação de incumprimento”, segundo Tiago Lopes.O
responsável da Autoridade de Saúde Regional admitiu a possibilidade de
ocorrerem outros eventos tauromáquicos este ano, mas disse que iria
promover uma reunião conjunta com as entidades organizadoras, para que
seja feita uma análise do que falhou na organização da tourada de
sábado.“Temos de fazer aqui uma paragem.
Temos de analisar, refletir e discutir e assumir aqui um compromisso em
conjunto, porque da forma como está não pode continuar”, salientou.O
Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande “repudiou”, no entanto, a
posição do diretor regional da Saúde, em comunicado, sublinhando que
todas as recomendações publicadas na circular informativa “foram
integralmente cumpridas”.“O evento
decorreu com a aprovação de todas as autoridades presentes na corrida,
onde se incluem os delegados técnicos nomeados pela Direção Regional da
Cultura e a Polícia de Segurança Pública”, reiterou.Os
forcados alegaram ainda que não foram informados da existência de
“qualquer irregularidade, nem pelas autoridades presentes no evento, nem
pela Autoridade de Saúde Regional”, e que até foram “parabenizados pela
boa organização, por todas as entidades presentes, onde se incluem
membros do Governo [Regional] e autarcas”.Entretanto,
o Bloco de Esquerda exigiu explicações da Autoridade de Saúde Regional,
em comunicado de imprensa, questionando Tiago Lopes sobre “a
penalização que será aplicada aos promotores do evento”, tendo em conta o
“grave incumprimento” das orientações.“A
autorização para realização de eventos e as regras sanitárias para os
mesmos não podem ser discricionárias e ao sabor de interesses
económicos, eleitorais, outros ou de quem promove o evento. Têm de ser
claros, objetivos, aplicados com equidade e, acima de tudo, têm de
colocar em primeiro lugar a saúde pública”, avançou o partido.Em
resposta, Tiago Lopes frisou que a Autoridade de Saúde Regional “não
autoriza ou deixa de autorizar a realização de eventos”, estando apenas
responsável pela emissão de orientações e recomendações para a sua
realização.Quanto à fiscalização destes
eventos, disse que “tem de ser da responsabilidade de cada entidade
organizadora, de cada proprietário de estabelecimentos, o cumprimento
das orientações e recomendações que são emanadas”.“Não
temos capacidade, nem nós, nem qualquer outra região do país ou do
mundo, para fiscalizar tudo o que é estabelecimento, tudo o que é
espetáculo e evento. É impossível”, sublinhou.